Bellini
e a Esfinge,
de Roberto Santucci
Brasil,
2001
Bellini e a Esfinge é o tipo de filme que praticamente desapareceu
no cinema brasileiro desde a decadência da produção
da Boca do Lixo. Um filme de artesão que quer prender a atenção
do espectador em sua trama por cerca de duas horas e se dá por
satisfeito com isto. Dentro destes termos o filme, mesmo tendo alguns
problemas, funciona muito bem.
O que diferencia Bellini
das frustradas tentativas recentes de se realizar cinema policial no pais
(A Hora Marcada, Condenado a Liberdade, Bufo & Spalanzani)
é a consciência do diretor Roberto Santucci do que realmente
importa para fazer um filme destes funcionar: uma trama que seja interessante,
mesmo que pouco original ou complexa, e trabalhar a linguagem cinematográfica
de forma a envolver o público no que é narrado.
O diretor e seus roteiristas
trabalham bem com estes ingredientes. O detetive Remo Bellini (Fabio Assunção)
é um protagonista com quem o público consegue se relacionar
bem, ele não é infalível nem esperto demais, nunca
se posicionando acima do espectador, e o pouco que sabemos sobre ele é
o suficiente para nos mantermos interessados. A trama sobre a procura
por uma prostituta e o assassinato de um médico importante é
bastante convencional mas bem narrada, e com novas informações
que prendem a atenção entrando quase sempre nos momentos
certos. As ocasionais cenas de ação são bem construídas,
e a tensão quando Bellini parece estar em perigo é palpável.
Apesar de algumas escorregadas, o filme é suficientemente verossímil
para que o público compre o que está sendo mostrado.
Santucci perde um
pouco o controle do filme junto ao clímax onde há uma certa
sobrecarga de informações para o espectador assimilar. Ocasionalmente
cai-se numa incômoda estetização excessiva da imagem
e Fabio Assunção, apesar de uma atuação adequada,
parece um tanto bem arrumado demais para um detetive particular com bom
trânsito no submundo como Bellini. Nada que realmente comprometa
muito o filme.
É interessante
notar que apesar de ter bem menos pretensões do que a maior parte
dos filmes voltados para o publico produzidos recentemente Bellini
e a Esfinge permanece após a sessão bem mais e que para
isto só foi preciso de algo bem simples, que seu diretor fizesse
um filme cercado de Brasil por todos os lados (Santucci é especialmente
bem sucedido no uso de locações). Ao confrontar o universo
classe média (do espectador-alvo e da maioria dos personagens)
com um outro Brasil que vinha sendo mantido sempre longe da tela, Bellini
acaba indo além das intenções de seus realizadores
(a prostituta interpretada por Malu Mader merece uma menção,
sendo a personagem mais intrigante do filme). Um trabalho de artesão
que mais do que cumpre o que propõe e estes serão sempre
importantes numa cinematografia nacional.
Filipe Furtado
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