Doidas Demais,
de Bob Dolman

Banger sisters, EUA, 2002


É impressionante o poder de reciclagem de idéias dentro da máquina industrial hollywoodiana. O papel da groupie Penny Lane em Quase Famosos deu fama e prêmios à jovem atriz Kate Hudson. Não é que cerca de dois anos depois surge um filme com sua mãe, Goldie Hawn, interpretando uma groupie cinquentona, que poderia ser uma versão mais velha da mesma personagem. É assim que Doidas Demais narra a história de Suzette que, precisada de grana após perder o emprego, parte de Los Angeles para Phoenix em busca de sua velha companheira dos tempos de sexo, drogas e rock’n’roll, Vinnie (Susan Sarandon). No caminho, dá carona a Harry (Geoffrey Rush) um escritor neurótico e fracassado, com quem inicia uma espécie de namoro forçado. Mas Vinnie virou Lavinia, uma mãe de família careta e rica, que quer apagar seu passado de esbórnia e rejeita a amiga. A reaproximaçao entre as duas se dará através da filha mais velha de Lavinia que, apesar dos esforços, não consegue manter as rédeas sobre sua família que está longe da perfeição por ela desejada e ostentada.

Contado assim, o argumento carrega uma evidente carga de banalidade. E o diretor estreante Bob Dolman, também autor do roteiro, nada faz para desfazer esta expectativa. Transparece a impressão que Dolman toca sua comédia como quém dá corda em um brinquedo e deixa ele funcionar descontroladamente. Temos personagens que parecem cópias mal feitas de trabalhos alheios, como o Harry, uma versão light de Jack Nicholson em Melhor é Impossível. O contraste entre Lavinia e Suzette é marcado de forma óbvia e grosseira, como as roupas em tons pastéis da primeira e a indumentária colorida de Goldie. Além disso, Suzette acaba parecendo uma espécie de Mary Poppins, que conserta as vidas de Harry e Lavinia. Só que estes dois personagens passam por transformações muito bruscas e pouco convincentes em um curto período de tempo – a ação de Doidas Demais se desenvolve em poucos dias – não fazendo jus ao talento de seus intérpretes.

Acima de toda esta modorra, paira Goldie Hawn. Atriz que, durante a década de 1970 teve seu comprovado talento cômico e dramático bem explorado em filmes como Ladrão Que Rouba Ladrão de Richard Brooks e Louca Escapada de Steven Spielberg, acabou nos anos de 1980 tipificada em papéis de loura-burra. Ultimamante vem trabalhando pouco, mas esteve perfeita em Todos Dizem Eu Te Amo, de Woody Allen. Agora em Doidas Demais aproveita a cada vez mais rara chance de brilhar, construindo sua Suzette como uma personagem bastante rica, sensual e coerente, sem se limitar à caricatura da coroa assanhada que não vê que seu tempo passou, conseguindo chamar para si toda a atenção de um filme que, sem ela, seria totalmente desinteressante. Esperamos que, após este trabalho, Goldie Hawn venha a ter seu talento melhor explorado pelo cinema americano, que lembre que tem nas mãos não somente uma atriz competente, mas também uma persona extremamente cinematográfica. A Goldie o que é de Goldie.

Gilberto Silva Jr.