Vida
Bandida,
de Barry Levinson
Bandits,
EUA, 2001
Logo no início
o espectador percebe que Vida Bandida vai trabalhar em terreno
mais que conhecido, coletando alguns clichês fílmicos tradicionais
de gênero. Começa com o sempre presente tema dos "bandidos
gente boa", verdadeira obsessão americana, segundo a qual aqueles
que quebram a lei mas dentro do que nossa moral permite, merecem mais
torcida nossa do que os próprios agentes da lei. O maior problema
desta lógica sempre foi esta tal "moral", mas isso não vem
ao caso aqui. Depois, um golpe ainda mais velho: a dupla de personagens
opostos precisando se aturar. Um deles (Bruce Willis), bonitão
e malandro, mas impulsivo e sem capacidade de planejamento. O outro (Billy
Bob Thornton), um paranóico à beira da insanidade, mas de
inteligência especial. Pronto, está preparado todo o drama
de que precisamos para nossas duas horas, certo? Estaria certo, se não
fosse a tal maldição do "pós-modernismo", este fantasma
que cisma em dizer que os clichês hoje não bastam. Precisamos
nos mostrar sabedores de sua existência, e jogar com eles, supostamente
negando-os, quando na verdade apenas apelamos para outros tantos.
Por isso, o filme
tem 40 minutos iniciais quase deliciosos, onde a trama vai sendo construída,
temos os primeiros assaltos a banco, etc. Um perfeito filme de gênero.
Aí, entra o roteirista querendo ser esperto, e estraga tudo. Com
a entrada da personagem de Cate Blanchett formando um triângulo
amoroso com os bandidos (por si mesmo um outro clichê que podia
funcionar), o filme muda completamente de tom, tornando-se quase uma comédia
"screwball", onde o que os personagens falam e fazem passa a ser mais
importante que a trama. Só que o roteiro não tem noção
de ritmo nem piadas o suficiente para conseguir ser algo mais do que entediante
nesta virada. Rapidamente o que eram características dos personagens
são exacerbadas ao ponto do surrealismo, as frases vão ficando
cada vez mais engraçadinhas, e portanto menos engraçadas,
e ao fim do filme a sensação de profundo desinteresse é
inevitável. Todos os atores no trio principal são talentosos
ao extremo, mas a falta de mão entre roteiro e direção
são apenas mais uma desculpa para que embarquem em tremendos overacting
ainda que com dose de auto-ironia. Em suma, o filme fica no clima do "não
foi, podendo ter sido".
Eduardo Valente
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