Avassaladoras,
de Mara Mourão
Brasil,
2002
Fiel representante da campanha pela retomada de bilheteria do cinema brasileiro,
Avassaladoras tem um alvo preciso e explícito. Se Xuxa aposta
certo em seus fãs televisivos, Lavoura Arcaica faz rebuliço
como cinema "de arte", Avassaladoras aposta todas as
suas fichas no fidelíssimo público das telenovelas.
A começar por
seu elenco global, todo o filme é construído no sentido
da fácil digestão e do fácil entendimento da narrativa.
Se isso não é, de forma alguma, um defeito por si só,
Mara Mourão não consegue sustentar o tom de forma convincente:
seja na precária direção de atores, seja nos fracos
diálogos do roteiro.
Se a narrativa do
filme se encaminha num ritmo frenético, se os atores estão
à vontade em seus estereótipos/arquétipos de galãs
e fracassados, o resultado do filme não se sustenta nem técnica,
nem expressivamente.
São diversos
os soluços de roteiro na última meia-hora do filme, quando
a narrativa se torna óbvia e repetitiva (o menor número
de risadas durante a projeção é um termômetro
representativo). Até mesmo o (aparentemente) divertido personagem
de Caco Ciocler se desgasta rápido demais e perde sua graça.
Seu fracasso com Laura (Giovanna Antonelli) se encaminha de forma a não
criar nem surpresa, nem piada, nem pesar. Reinaldo Gianechinni faz o papel
de sua simples aparência, mas não consegue se resolver entre
a canastrice assumida e a tentativa de interpretar naturalmente. Salva-se
a participação engraçadíssima de Márcia
Real no papel da avó de Laura.
* *
*
Filme medíocre
assumido, Avassaladoras não deixa nada a desejar em comparação
com seus primos ricos (hollywoodianos ou "independentes") cheios
de Meg Ryans e adjacências.
No final das contas,
Avassaladoras funciona apenas como uma diversão em pequenas
esquetes sobre as vicissitudes amorosas da vida de mulheres da Zona Sul
carioca. Se as piadas funcionam em certos pontos, se mostram inférteis
diante de uma narrativa sem brilho, claramente limitada por seus objetivos
de bilheteria e que acaba, justamente por isso, se resumindo num discurso
de moral ultra-simplista.
Avassaladoras
é o discurso fácil da independência feminina. Independência
conseguida de forma neurótica e negativa, onde somente o que importa
aos olhos da Laura Avassaladora é seu próprio caminho. Para
as dificuldades de relacionamento encontradas pelas personagens femininas,
a resposta do filme é a de um puro egoísmo auto-sustentável,
onde o sucesso profissional e a auto-estima sublimam as carências
afetivas. No jogo de gato e rato antropológico descrito pelo filme,
apenas a mulher forte e indiferente poderá ser feliz sobrevoando
os temores medíocres das mulheres comuns.
Esse discurso de auto-ajuda
mal velado é o elemento mais incômodo de todo o filme. É
dele que nasce a viagem que Laura faz a Nova York para fugir de seus fracassos
e de seu país. Nos cartões postais enviados às amigas,
Laura escreve eufórica: aqui é a fonte! Nova York é
a fonte da felicidade?!...
Pois é, despretensão
tem limite!
Felipe Bragança
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