A Musa,
de Albert Brooks


The Muse, EUA, 1999

Albert Brooks criou para si uma imagem no cinema que os estrangeiros chamam de "Woody Allen" sem o talento, e os americanos mesmo chamam de "Woody Allen" de Los Angeles, mais sensíveis que são ao caráter regional completamente diferenciado do imaginário novaiorquino para o mesmo californiano. Esta nova produção de Brooks dá bastante subsídios para se chamar de sem talento e de californiano, sem dúvida.

O filme começa como uma sátira ao processo hollywoodiano, especialmente à figura do roteirista. É impossível não pensar então no O Jogador de Altman. No entanto, em seguida a trama dá uma virada para o sobrenatural, ou mais exatamente para o comportamental, que acaba com as possíveis semelhanças, que em si já não eram muitas, visto que o tom do trabalho de Brooks é muito mais o do retrato agridoce do que o da sátira mordaz e absurda de Altman. Deve-se ressaltar, aliás, que até aí estão as melhores cenas e o interesse do filme.

Com a entrada de Sharon Stone como a musa, quer dizer, A Musa, pois de fato se refere a uma das 9 filhas de Zeus, o filme cai numa piada de uma nota só, que logo fica cansada. O filme levanta duas perguntas, até interessantes, mas que não ocupam 1 hora e 40 de atenção: até que ponto se está disposto a ir pelo sucesso, e se a inspiração vem de fora ou de dentro dos artistas. Todos os atores parecem em piloto automático, nenhum deles aliás chegando a estar mal, mas absolutamente desvinculados de qualquer idéia nova. E assim vai o filme, ralentado e sem nenhuma nova informação, se arrastando. Num certo momento há uma cena realmente engraçada, diria até hilária mesmo, mas ao invés de redimir o filme, ela dá uma sensação de "porque não podem ter mais cenas assim?" E aí, o filme chega ao final, com uma das soluções mais preguiçosas e anticlimáticas possíveis, deixando na boca aquele gosto de fórmula pronta. Sem talento, e californiana.

PS: Para os mais conhecedores das feições e carreiras dos diretores, as aparições especiais de Rob Reiner, James Cameron e Martin Scorsese criam uma piadinha a mais, mas nada que só de eu ter contado que está no filme já não se possa imaginar...

Eduardo Valente