Um
Amor de Borges,
de Javier Torre
Un
amor de Borges, Argentina, 1999
A narração de um episódio da vida do genial escritor
argentino Jorge Luis Borges seria o chamariz deste filme para um público
admirador de sua obra, ou mesmo para quem nunca pegou um de seus livros,
mas sente-se atraído por seu nome, achando que assim irá
conhecer um pouco sobre ele. Vã ilusão. O veterano diretor
argentino Javier Torre realizou uma fita convencional e pouco criativa,
que nada tem a ver com a complexidade literária dos textos de Borges.
Como indica o título,
Um amor de Borges retrata o romance entre o escritor (Jean Pierre
Noher), um homem maduro apenas na idade, mas distante da vida real, encerrado
em seu mundo de livros (trabalha como bibliotecário) e superprotegido
pela mãe. Ao ser procurado por Estela (Inés Sastre), uma
aspirante a escritora que deseja sua ajuda em uma tradução,
os dois iniciam uma amizade que irá evoluir para o amor, principalmente
pelo fato de Borges sentir-se confortável com a erudição
da moça. Mas obstáculos de ordem pessoal, social e mesmo
política acabarão por separá-los.
Como podemos perceber
pela sinopse acima, a estrutura do filme não sugere surpresas.
Após um início bastante promissor, com uma boa apresentação
dos personagens, o filme vai aos poucos desembocando em um certo marasmo,
principalmente do ponto de vista visual, com os encontros e desencontros
do casal sendo filmados de forma bastante redundante. O filme se aproveita
de clichês batidos, como o fato de fazer uso do papel do episódio
contado na criação de importante obra do autor, no caso
seu conto mais famoso, O Aleph. Ou explicações psicanalíticas
simplórias para o comportamento inseguro e imaturo de Borges. Além
disso, o contexto sócio-político da Buenos Aires da segunda
metade dos anos quarenta é somente esboçado no roteiro,
subestimando a importância do momento no qual se dava a ascensão
do Peronismo.
Mas o filme também
apresenta algumas (poucas) qualidades, principalmente no que se refere
às atuações. O Borges de Noher é, apesar dos
maneirismos, um personagem completamente crível e complexo, onde
se observa o comportamento aluado de certos gênios. Inés
Sastre contribui com beleza e segurança para uma personagem diametralmente
oposta, cuja objetividade e pé-no-chão a tornam consciente
da impossibilidade do romance. Mas nada que dê mais relevância
ao trabalho.
Gilberto Silva Jr.
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