Amor à Segunda Vista,
de Marc Lawrence


Two Weeks Notice, EUA, 2002

Amor à Segunda Vista é uma produção assinada Sandra Bullock. Isso já dá toda a dimensão do projeto: filme bem-pensante, desengonçado, nada sinuoso, muito menos voluptuoso. Mas um filme que dir-se-ia do lado do bem, se fôssemos excessivamente complacentes: critica as grandes corporações em seu afã de destruir tudo que não é unicamente lucrativo (um pouco, aliás, como Mens@gem Para Você), defende os advogados que ganham pouco e lutam por causas nobres e, acima de tudo, faz uma piada ótima sobre os presidentes Bush, pai e filho (Amiga: – Só vi você chorar uma vez, quando Bush foi eleito... Hmm, OK, duas vezes.). Mas nem todas as boas intenções saberiam salvar esse filme do desastre.

A história é conhecida: advogada de Harvard, filha de uma família de tradição militante esquerdista pró-minorias, trabalha em prol dos pobres e das causas perdidas. Para salvar um centro comunitário da demolição para a construção de um centro empresarial, ela vai falar com o responsável pela construção, um multimilionário que contrata as advogadas com o único fim de levá-las para a cama. Adivinha: tal qual em Uma Linda Mulher, os opostos se atraem, os sonhos da menina pobre se tornam realidade e o empresário malvado se torna bonzinho. Mas isso só no final, claro. O problema é que até em previsíveis filmes água-com-açúcar é preciso que em algum momento o espectador acredite que o romance pode dar errado, que tudo pode ir por água abaixo, que as duas mentalidades são inconciliáveis, etc. Essas coisas a que a gente geralmente chama dramaturgia, construção de personagens, situações plausíveis, aprofundamento psicológico, e por aí vai. E isso tudo falta traumaticamente a Amor à Segunda Vista, filme sem charme ou sinergia entre os personagens (Sandra Bullock com sua insipidez usual, Hugh Grant incrivelmente sem graça ou charme) e sem clima algum da parte da direção, que não consegue criar sequer boas seqüências românticas ou líricas (o que, há de convir, qualquer filminho meia-boca de amor consegue com as mãos nas costas). Dito isso, a única coisa a se notar é: ao menos a bela Norah Jones aparece no filme, ao piano. Mesmo não tocando sua música até o fim – obviamente a inépcia do filme abandona-a antes –, ela será o máximo de "artístico" a que o filme acederá.

Ruy Gardnier