Amém, de Constantin Costa-Gavras
Amen,
França/Alemanha/Romênia/EUA, 2002
Segundo entrevistas
concedidas por Costas-Gavras durante sua passagem pelo Festival do Rio
de 2002, Amém é fruto de um antigo desejo de retratar
o holocausto pela ótica de um nazista comum, que faz parte do aparelho
como funcionário sem compactuar com a ideologia e a prática
dos discípulos de Hitler. Em 1968, quando viu uma montagem da peça
Der Stellvertreter, de Rolf Hochhuth, o projeto cresceu. Foram
precisos mais de 30 anos para obter os direitos de adaptação,
que durante esse período passaram de mão em mão.
Tanto tempo e determinação
para tão pouco. Amém tem um ótimo material
como ponto de partida. É protagonizado por um funcionário
de SS, especialista em descontaminação, e por um jovem e
abnegado jesuíta, com trânsito junto ao Papa Pio XII. Ambos
lutam para alertar o mundo para o Holocausto. O oficial nazista é
um paradoxo ambulante: dá consultoria técnica para o mecanismo
de eliminação de judeus e, ao mesmo tempo, tenta espalhar
informações sobre as execuções coletivas.
O jesuíta faz o mesmo em seu campo, ou seja, tenta abrir o olho
do Papa. Nenhum deles têm êxito. A igreja católica
dá de ombros para a matança de Estado, pois, antes de pensar
na sobrevivência dos judeus, preocupa-se em cortar as asas do comunismo.
E Hitler, apesar de suas ações, é a tesoura.
O filme limita-se
a acompanhar a infrutífera insistência desses dois personagens
em sua cruzada de conscientização dos justos para o pecado
cometido com o silencioso consentimento de quem sabe do processo. Reduz-se
a um bla-blá-blá interminável que, além de
ensinar um pouco de História a quem pouco sabe dessa passagem,
tem a meta de provocar controvérsias. Conseguiu, em parte. Na França,
pelo menos. Grupos católicos conservadores atacaram o cineasta
por promover seu trabalho com um cartaz ilustrado por uma cruz prolongada
por uma suática. Obra do fotógrafo Oliviero Toscani, outro
adepto de provocações efêmeras.
No entanto, apesar
de ter dois personagens com alto potencial de complexidade dramática,
Costa Gravas implode-os. Sua direção é burocrática.
Imprime à narrativa a fluência de um alemão falando
com batata quente na boca e a desenvoltura de um tanque de guerra atolado
na areia movediça. O diretor parece preocupado apenas em dar imagem
a seu trabalho de pesquisa histórica por meio de um tecido dramatúrgico
pobre. O cinema jamais surge de sua denúncia contra a Igreja. Só
se vê postura. Mesmo assim, pela metade. Porque o personagem alemão
é contra os assassinos de judeus, mas em nenhum momento questiona
a política anti-semita. É mais ou menos como se nos dissesse
com sua atitude: persegue, prende, expulsa, mas não mata. Costa
Gavras esqueceu de explorar esse pequeno detalhe. Na verdade, esqueceu
de tudo. Até mesmo de como evitar que um roteiro se transforme
em câmera de tortura
Cléber Eduardo
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