Alucinação,
de Steve Carpenter
Soul
survivors, EUA, 2001
O que mais impressiona na recente superexploração do filão
"filme de terror de adolescentes" é a prova de como a
criação de uma fórmula leva ao extremo uma certa
pasteurização inerente a um produto industrial, como é
o grande cinema comercial. Este Alucinação sofre
deste mal de uma forma acachapante. Não há uma cena, um
diálogo, um personagem, um ator mesmo que não pareça
estar ali batendo ponto, seguindo à risca cada detalhe da tal fórmula,
recebendo seu pagamento. O filme possui apenas um ritmo do início
ao fim: modorrento.
Assim, a direção
de arte pega o que tenhamos de mais clichê de um "lar feliz",
de uma "república de estudantes", de um "nightclub
alternativo", e reproduz essa imagem na tela, sem colocar sequer
um milímetro de novidade, ou pelo menos uma dose de auto-ironia.
É desta mesma forma que se trabalha com personagens, situações,
imagens, trilha. Mesmo tendo a fenomenal Eliza Dushku no elenco, exalando
furor sexy pelos poros todos, a pasmaceira geral consegue torná-la
quase inofensiva numa cena "light" de lesbianismo (aliás,
a única cena com alguma força no filme é uma dela
no chuveiro com a mocinha do filme, muito menos claramente lésbica,
mas cheia de vibração). Mico maior mesmo só quem
paga é Luke Wilson, que parece ter sido lobotomizado antes do filme
ser rodado.
Não há
nada de positivo que se possa tirar do filme, com exceção
talvez deste papel quase histórico que os espectadores e estudiosos
poderão tirar ao assistir o filme no futuro e entender o que era
a banal concepção de cinema de terror nos anos 2000. Talvez
daqui há 50 ou 100 anos Alucinação tenha algum
valor, porque hoje certamente não tem.
Eduardo Valente
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