O
Alfaiate do Panamá,
de John Boorman
The
Tailor of Panama, EUA/Irlanda, 2001
Farsa. Esta palavra serve para se entender tudo sobre este filme. Talvez
não ela sozinha, mas principalmente. A grande sacada de Boorman,
que fora qualquer outra coisa tem um domínio narrativo completo,
é a de levar sua farsa a sério até um certo ponto.
Este golpe pega o espectador de calças curtas, porque ele até
tenta levar o filme a sério, tenta acompanhar sua trama como algo
de relevante, algo de construtivo. Não trata-se, portanto, de uma
paródia, como alguns poderiam pensar, e sim de uma farsa, literalmente.
Um exemplo são as interpretações de Pierce Brosnan
e Geoffrey Rush, que num primeiro momento parecem construir personagens
críveis, sérios, mas ao longo da narrativa vão se
mostrando cada vez mais irreais, exagerados. Assim como a trama, que começa
direta, mas vai ficando a cada momento mais e mais intrincada, atingindo
proporções completamente inesperadas.
Mas, o que talvez
fique escondido da maioria dos espectadores é um subtexto interessantíssimo
e político que o filme oculta. Assim como nós enquanto espectadores
gostamos de acreditar nos maiores absurdos que o cinema nos conta porque
acreditar neles mesmo os sabendo mentirosos é o que nos faz acompanhar
a trama, o filme indica que os que detêm o poder também gostam
de acreditar nas enroladíssimas teias de mentiras que contam, mesmo
sabendo que elas assim o são, porque são elas que tornam
possível eles se perpetuarem no poder, e ganharem muito dinheiro
com isso. O personagem de Rush entra nessa então como um pobre
membro do povo, despreparado para o jogo de cachorro grande com que vai
se envolver. Ele não possui a sofisticação necessária
aos grandes mentirosos, trata-se de um mentirosinho. Por isso, principalmente
ele sofrerá as consequências dos seus atos. É este
comentário que justifica o filme todo, que de resto parece ter
sido divertidíssimo de fazer, de assistir, e até faz com
que passemos por cima de uns bons vinte minutos lá pela sua metade
onde tudo parece parar de evoluir.
Eduardo Valente
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