Agnes Browne –
O Despertar de uma Vida,
de Anjelica Houston


Agnes Browne, EUA, 1999

Existe uma categoria de filmes (que em verdade se revela cada vez mais numerosa), onde o crítico senta, assiste, acaba e ele pensa: por que isso?? Geralmente isso acontece com trabalhos que seguem uma linha absolutamente acadêmica, com uma história completamente clichê, técnica e estruturalmente bem construídos, quase sem coração. Eles parecem seguir alguma cartilha pronta, ou mais, parecem de fato terem sido feitos "no automático". Pois bem, este é o caso com Agnes Browne.

Anjelica Huston tem um claro carinho pelo ambiente e tempo retratados (a vida dos menos afortunados na Irlanda da década de 60), e constrói um painel absolutamente realista deste local. Segue a vida de uma mulher cujo marido morre, e a deixa com sete filhos para cuidar. Resta a ela contar com a ajuda dos amigos, e lutar muito para vencer. No primeiro plano do filme, o espectador sente que sabe quase tudo que vai acontecer daí por diante, e não se engana. O filme passa, sem paixão, sem tesão, sem inovação, sem sequer erros crassos, imperfeições que sempre acabam dando pelo menos uma diferenciação ao trabalho. Se há uma marca em especial a se destacar no filme é que sua história mal dava para um média, quiçá um curta. O desfecho prova isso, pois descobrimos que o grande "vilão" da história é um personagem absolutamente sem sal, sem desenvolvimento, e que é vencido com uma facilidade preguiçosa onde só podemos pensar "Mas era só isso?"

Que não se diga que Agnes Browne é um filme ruim, longe disso, pois passa agradavelmente pelos olhos em busca do que já se viu antes tantas vezes. Suas maiores qualidades são a interpretação de Marion O’Dwyer e a força da "cor local", o sotaque, o peculiar do irlandês, que passa bem no filme. No entanto, não ser ruim não chega a ser qualidade. Pois neste caso significa que nem isso ele é. É só um filme, mais nada. Haverá outros iguais... E isso, se me perguntam, é o pior que se pode dizer de uma obra de arte.

Eduardo Valente