O Agente Teen,
de Harald Zwart

Agent Cody Banks, EUA, 2003


Jovem, você que ainda não completou 18 anos, aliste-se. Em época de guerra, nada mais urgente que recrutar voluntários para salvar o mundo. Pelo menos nos Estados Unidos. Não importa a idade. Esse é o tema do filme O Agente Teen ou, como muitos já andaram falando, o 007 mirim.

Cody Banks, interpretado pelo ator de sucesso norte-americano Frankie Muniz, aparentemente é um rapaz débil, sem graça, invisível na multidão que se aglomera na porta do colégio. Um típico nerd. Seu segredo é que ele passa o dia pesquisando literatura especializada em códigos secretos, treina mimeticamente os golpes dos famosos espiões, coisas desse tipo. Sua primeira façanha do filme é salvar um bebê que acidentalmente solta o freio de mão do carro, enquanto sua mãe está distraída fora do veículo. Numa possível alusão a Eisenstein, na famosa cena de Encouraçado Potemkin, aqui temos a mesma sensação da falta de controle sobre o poder gravitacional. Desta vez, trata-se de um carro automático, daquelas banheiras típicas dos Estados Unidos, descendo em ré uma ladeira. Cabe ao jovem herói correr atrás do veículo, neste caso uma arma de grande porte. Cody usa seu skate, numa outra possível referência a Michael J. Fox em De Volta para o Futuro. Até aqui, o que se tem é a percepção de que o controle da situação tem uma relação proporcional com a faixa etária dos protagonistas. Cody, o adolescente, começa a se preparar para o mundo e enfrentar suas crises e dificuldades. O bebê do carro, o id, é a manifestação pictórica da pura inocência.

A cena seguinte inverte esses valores. Cody é arrastado por uma agente arrasa-quarteirão para uma missão secreta. Um seqüestro-relâmpago do bem. Aqui, mudam os parâmetros da relação entre dominante e dominado. A agente profissional tem as técnicas, tem o domínio, carrega consigo a calejada experiência de combater os inimigos da pátria. Cody, neste novo contexto, é o novato, o bebê que começa a descobrir o misterioso mundo da CIA. A relação de troca consiste em que Cody ganhe o status e o poder de agente secreto, para isso tendo como missão se infiltrar num esquema de criação de células robóticas programadas para destruir.

Essa ascensão social chega a ser gritante. O mesmo segurança da CIA, que proíbe a entrada de Cody a este seleto universo, passa a respeitá-lo a partir do momento em que toma conhecimento da nova patente do mancebo. Isso mostra claramente que, nos Estados Unidos (assim como no resto do mundo), a porta de entrada para o bem-estar só se abre mediante distintivos. E o filme não parece criticar muito esse comportamento estamental.

Claro que, como não poderia deixar de ser, Cody Banks tem uma paixão, nem tão secreta assim. E é óbvio que, neste estereótipo de nerd, ele gagueja ao falar com sua musa amada, sendo posteriormente ridicularizado pelos colegas. "Ela não é para o seu bico", diz um deles. Pronto, eis o postulado do filme: o mundo real não pertence aos fracos. O prazer é inacessível a eles. Mas, como todo filme teen "sem grandes pretensões", à medida que ele vai exibindo suas técnicas e suas habilidades, vai comovendo a princesa da trama, papel vivido por Hilary Duff. Mais uma evidência do estado prepotente e megalomaníaco dos norte-americanos: somente os superpoderosos ganham. Seria um tapa na cara das províncias subdesenvolvidas do planeta, ou uma crítica velada retratada através da intolerância de se conviver com a mediocridade e apatia que tomam conta da maioria silenciosa da população?

Normalmente, estes filmes de heróis mostram um determinado período na trajetória do personagem. Por mais que De Volta para o Futuro tenha rendido seqüências, ninguém teve coragem de colocar na tela o Mc Fly adulto. Com Esqueceram de Mim foi a mesma coisa. Pararam de filmar e não foi por esquecimento. Com O Agente Teen, tudo indica que vai acontecer a mesma coisa, embora esteja prometida uma continuação para 2004. Cody Banks vai crescer, sua voz vai ficar mais grossa, as espinhas vão sumir e os músculos vão começar a aparecer. Ele não vai mais causar interesse ao seu público por um simples motivo: o envelhecimento natural.

Érico Fuks