Absolutamente
Los Angeles,
de Mika Kaurismaki
L.A. Without a Map, EUA,
1999
Absolutamente Los Angeles nos coloca
de primeira num cemitério londrino. Vemos um jovem papa-defunto
em sua vida monótona, até que, de longe, ele avista uma
menina loura e de roupa colorida que em tudo destoa do visual modorrento
de seu ambiente de trabalho e de sua cidade. "Desde que eu a vi eu
percebi que a minha vida ia mudar completamente", diz o papa-defuntos
Richard. A menina, de nome Barbara, diz que mora em Los Angeles e só
passará um dia no tal vilarejo inóspito. Mas só esse
dia é suficiente para a vida do pobre papa-defuntos virar de cabeça
para baixo: abandona a noiva, os negócios, a cidade e parte para
Los Angeles atrás de Barbara, sempre se comunicando com o William
Blake interpretado por Johnny Depp em Dead Man, de Jim Jarmusch.
Esses momentos, aliás, que Depp sai do pôster do filme e
passa a fazer caras e bocas para o nosso aventureiro são os únicos
momentos mais "pó-mó" do filme, de narrativa no
geral muito certinha. Em Los Angeles, Richard passa a perseguir Barbara
(e acabar se casando com ela), ganhar amigos (Vincent Gallo e Julie Delpy)
e viver mais ou menos o avesso das meninas que o Showgirls de Paul
Verhoeven mostra. Barbara é uma atriz disposta a vencer na vida,
bem podendo ser uma das showgirls; Richard representa o resíduo
moral, aquele que busca autenticidade e amor verdadeiro. Logo, é
difícil imaginar que a simbiose dos dois tenha algma graça
para o espectador, que mais deseja é que a falsa puritana se entregue
para o dretorzinho babaca de Hollywood e que o papa-defuntos seja feliz
em outras paragens. O fim edificante, entretanto, provará que estamos
errados e que é possível viver com o tal opposites attract.
Pode ser melhor para os dois, mas para o espectador que já
criou uma antipatia tremenda pelas brigas dos dois definitivamente
não é.
Ruy Gardnier
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