As Mulheres de Adam,
de Gerard Stembridge


About Adam, Irlanda/Inglaterra, 2000

Existem dois filmes em constante luta dentro deste aqui: o que foi escrito pelo roteirista, e o que foi filmado pelo diretor. Não que o último desrespeite o que o primeiro fez. É que simplesmente ele não parece a escolha certa para lidar com a história que ele tem em mãos. Porque, com o devido tempo, percebemos que a história possui verdadeiro interesse, uma moral das mais pertinentes hoje e sempre, e acima de tudo, um motivo que justifica sua estrutura narrativa. O problema é ainda estarmos interessados pelo filme quando isso tudo se esclarece.

Porque o mais impressionante do filme é talvez como ele é mal filmado. Tudo nele parece mal resolvido, os atores embarcam em constantes jornadas de overacting, a fotografia é completamente truncada (tanto nos seus movimentos de câmera quanto em iluminação e enquadramentos), a montagem impressiona pela sua aparente descoordenação. É difícil acompanhar 30 minutos de filme sem uma sensação enorme de enfado, de verdadeiro desinteresse, tal a sua desarticulação em todos os aspectos da linguagem (não propositalmente, diga-se).

Porém, aos que agüentem, uma inesperada surpresa: o filme propõe algo de novo sim. Certamente não algo de inédito, mas de cada vez mais raro: um elogio a um certo comportamento conhecido mais simplesmente como a "cafajestagem". Principalmente, uma deconstrução do cafajeste, não como um aproveitador, mas como alguém que apenas oferece aquilo que suas supostas vítimas de fato querem receber. Há uma defesa alegre e sem culpas disso, e mais ainda, uma verdadeira declaração de intenções que recusa a mais tradicional relação causal que está tomando de assalto os filmes. O personagem num certo momento diz "Não, eu não sou assim por algum problema na minha infância infeliz", o que soa incrivelmente refrescante.

Infelizmente, poucos são os ainda atentos que poderão usufruir de todas as qualidades de As Mulheres de Adam, mas o fato é: às vezes uma boa idéia consegue escapar até mesmo das garras de uma péssima direção.

Eduardo Valente