8
Mulheres,
de François Ozon
8 Femme, França, 2002
Depois de mais de 100 anos investir em cinema de gênero pode
ser um caminho certo para a mesmice. A não ser que todo o conjunto do
filme seja impecável, corre-se o risco de assistir a um festival de fórmulas
gastas que não atrai mais interesse. Não existe revitalização, somente
cópia ou homenagem, as duas possibilidades cheirando a mofo.
8 Mulheres se sai muito bem com suas citações.
Ozon fez uma mistura de gêneros, o que à primeira vista não parece nada
fabuloso. Porém, ao invés de simplesmente colar elementos óbvios aos gêneros
em que se baseia, ele vai além e mistura outros elementos de outros gêneros,
fazendo questão de nunca esconder que seu filme é uma ilusão. Não a ilusão
que fundamenta o cinema clássico e que tem o objetivo de recriar uma realidade
nova, mas uma ilusão que se assume e é criada justamente para que seja
percebida assim, sem objetivo de enganar o público.
Sorrateiramente, com calma, após um momento inicial onde
é possível pensar que 8 Mulheres trilha um caminho batido, Ozon
provoca estranheza, justamente pela mistura de elementos genéricos diversos.
Quando essa junção acontece, já é tarde demais para evitar a surpresa.
Mas essa miscelânea, mantida até o final, é imediatamente aceita como
uma realidade única, própria de 8 Mulheres, jamais encontrada em
filme algum. É isso que permite Ozon usar interpretações exageradas sem
parecer descontrole e cenários estilizados sem soar falso.
Muito mais do que um filme de mulheres, feito apenas para
dar espaço para as atrizes e transformá-las no objeto central da obra,
8 Mulheres chama a atenção por suas qualidades cinematográficas.
Quem tem no elenco o atrativo principal para ver o filme vai descobrir
que, sem desmerecer as 8 deusas, ele é apenas muito bem escolhido e que
Ozon o usa com destreza para criar um filme que, contando com rostos conhecidos,
tem muito mais a oferecer.
João Mors Cabral
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