|
Melhores de 2009; Eugène Green
A chegada de 2010 traz o fim da
primeira década deste século e com ele a evidência da necessidade de repensar
muitos de nossos próprios conceitos acerca do cinema feito hoje. Mas como não
se trata de uma tarefa que possa ser realizada sob o espírito do imediatismo,
por ora nos ocupamos da avaliação do ano que passou. Este ano a lista de
melhores do ano da redação retorna à página de artigos, acompanhada dos
tradicionais parágrafos e de textos abordando um ou outro aspecto que nos
chamou a atenção ao olhar para a produção de 2009 em retrospecto.
Nossa pauta principal é também, em
certo sentido, derivada do que nos proporcionou 2009: Eugène Green, um dos
cineastas mais importantes surgidos na década passada teve finalmente um filme
seu exibido no Brasil. A Religiosa Portuguesa, parte da programação da
Mostra de São Paulo do ano passado, representou para a redação a oportunidade
de travar um contato definitivo com a singular obra deste cineasta. Assim como
Alain Guiraudie, Serge Bozon, Pierre Léon, Jean-Claude Rousseau e alguns
outros, Green representa uma parcela crucial do cinema francês, porém não muito
conhecida do cinéfilo brasileiro. Na verdade, no caso específico de Eugène
Green, mesmo na França ele não recebeu tanta atenção quanto merecia (basta
dizer que as duas principais revistas de crítica francesas, a Cahiers du Cinéma
e a Positif, deram pouquíssimo espaço aos filmes dele). A posição que ocupa é
de certa forma compreensível: adepto da palavra, da dramaturgia, da literatura,
da presença forte do ator, do signo decantado pelos poderes secretos da
linguagem, Green coloca-se automaticamente na contramão dos cinemas que
estariam mais “em fase” com o mundo atual, que são os cinemas que buscam uma
ordem infra-intelectual e super-sensória onde o texto e a palavra desempenham
pouca ou nenhuma função na organização da narrativa. Hoje a maioria dos
cineastas pensa tudo em termos de imagem (ou de efeito-imagem), desde a origem
do argumento até a cópia final. Green, inversamente, parte da língua para
chegar às imagens. E quando chega, atinge expressões visuais que muitos jamais
conseguirão atingir.
Esperamos cada vez mais sermos
capazes de explorar estas margens do circuito de cinema atual, de tentar burlar
de alguma forma a circulação de imagens que se nos apresenta de maneira mais
óbvia e direta, para encontrar aquilo que pode hoje proporcionar reflexões
significativas, além das manifestações de modismos e/ou fetiches com a
tecnologia e os meios. Com este intuito, passaremos a ficar também mais atentos
aos lançamentos de DVD no Plano Geral, pois há uma quantidade considerável de
títulos fundamentais sendo lançados simultaneamente, ocupando parte da
lamentável lacuna que temos em termos de programação de repertório nos cinemas
– responsabilidade primordial das cinematecas, mas que tem sido encampada pelos
produtores de mostras em centros culturais. Enfim, seguimos em frente.
|
|