Have Sword Will Travel de Chang Cheh (1969)
A equipe de redação da Contracampo oferece para o segundo semestre cursos sobre história do cinema mundial, história do cinema brasileiro e oficinas de crítica.
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Os filmes de Luchino Visconti, os curtas-metragens de Antônio Carlos Fontoura e Georgia, de Ulu Grosbard, como filme a recuperar.
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A Globo tentando se vender como objeto de exceção cultural em tempos de contrapartida social e Ancinav e a tradicional coluna de filmes na semana.
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Som, fúria e cinema

No novo ano que começa, os ventos sopram e o ar se renova. Hão de se renovar também os procedimentos. As novas tecnologias de se assistir a filmes também podem proporcionar novas análises. Ter um filme rodando no disco rígido de seu computador traz uma nova relação com a imagem, e logo com o cinema. Traz também uma nova possível relação de análise e crítica. A famosa inveja que o crítico de cinema tem do crítico literário, que dispõe da mesma mídia – o papel – para analisar atenta e minuciosamente seu objeto, tende a se diminuir. Se ainda é um pouco quimérica e restrita a possibilidade de falar junto com a imagem em movimento, já é possível com alguma facilidade retirar alguns momentos do fluxo de movimentos e analisá-lo a partir de algumas imagens que dão conta das modificações que se dão no espaço. Eis, ao menos, um novo procedimento crítico, que inauguramos nessa primeira edição de 2005: a análise de seqüências como forma de grudar texto e imagem, imagem e reflexão. Procedimento que vem sendo utilizado na melhor crítica lá fora – nos escritos e nos trabalhos em DVD de Tag Gallagher, nos Cahiers du CInéma, ou na nova edição da revista eletrônia Rouge – , mas ainda engatinhando por aqui.

E, para tentar observar o movimento e as apropriações de espaço e enquadramento, poucos cineastas tão ricos quanto Chang Cheh, cineasta mais talentoso, prolífico e importante da produtora Shaw Brothers, responsável pelos surtos de cinema wuxia e de kung fu em Hong Kong nos anos 60 e 70, respectivamente. Existe em Chang Cheh uma força de sempre engajar a imagem no movimento, no espaço, de fazer do plano o espaço de fluxos (de amor, de sangue) irredutíveis ao comércio e de invenções irredutíveis ao gênero. Agora, graças ao relançamento de boa parte de sua obra em DVD no exterior (no Brasil só chegaram até agora quatro títulos tardios dos anos 70) e ao advento dos programas p2p, é possível ver, rever e reavaliar o papel de uma cinematografia que sempre exerceu papel decisivo no cinema de gênero dos anos 70 até hoje, de John Carpenter a Quentin Tarantino, alastrando-se definitivamente a partir da carreira americana de John Woo. Um cinema divino e maravilhoso, e tão mais interessante de se escolher como tópico devido à absoluta indiferença com que sempre são recebidos os filmes de gênero diante da crítica "séria". Uma viagem que, longe de acabar, está só começando.

Mas nem só das novidades vive o novo ano. Acompanhando a edição, publicamos nossa tradicional pauta de começo de ano, retrospectando o ano anterior do cinema nacional com o Cinema Falado, chamando os leitores para eleger seus filmes preferidos do ano que se passou, e escolhendo em votação os favoritos da redação. Tanto entre os redatores quanto entre os leitores, o campeão de 2004 foi Elefante, de Gus Van Sant, um filme sobre um momento preciso e recente da história americana que através do poderoso uso das formas expressivas do cinema, tende a se eternizar no imaginário e na história da arte cinematográfica.

Dentro da revista, também renovação: Eduardo Valente deixa a editoria da revista para perseguir mais de perto alguns compromissos de sua carreira de cineasta (o que envolverá uma viagem de cinco meses à França, tempo no qual funcionará como uma espécie de correspondente parisiense) e, é preciso dizer, mesmo com pesar, também por algumas discordâncias em relação aos processos de trabalho e ao ritmo de produção interna da editoria. Assume a editoria-geral da revista, junto com este que vos escreve, Luiz Carlos Oliveira Jr., por demais conhecido dos leitores para precisar de apresentação. Essa mudança não evoca a princípio nenhuma nova orientação crítica ou de pessoal na revista, e se mudanças houver, elas se devem tão-somente às diferentes formas pessoais de compreender o cinema e os processos que ele realiza com o mundo em que se vive. Fica aqui nosso carinho a este editor que se esmerou como nenhum outro membro da revista a fazer a Contracampo passar de um fanzine plus à publicação periódica que somos hoje (em tempo: Valente continua como membro da redação e como editor da seção de críticas), e nossos melhores votos de sucesso do outro lado do Atlântico. Enquanto isso, seguimos com esse cotidiano tão entusiasmante que é o das imagens de cinema nesse país tão particularmente sedutor e complicado que é o Brasil.

     
  Ruy Gardnier