SAC, dezembro 71. João Batista de Andrade apresenta PAULICÉIA FANTÁSTICA, panacéia desvairada dos atinos e desatinos do cinema paulista desde os primórdios até 1934. Pânico no penico. Um filme de cinema: o documentário acoplado na ficção e a ficção montada no documentário, para total gozo de ambos. Metacinema de primeiro grau, JBA compilou o que viu de melhor em 8 mil latas. Não fez nenhum painel cronológico do avervo fílmico e iconográfico. Para felicidade do cinema, escapou firme do didatismo linear reacionário. O massagem foi o grande lance criativo e o filme resultou de grande modernidade com sua narração sincrônica. Maravilhosa jogada de JBA & sua equipe. Uma história sem história teria que ser mesmo simultânea, como se todos os filmes citados contribuíssem para um único e grandioso filme de equipe. Isso é o que Oswald diria a contribuição milionária de todos os erros. Ou cada novo filme (enquanto o país tiver ar de pomar) tem que recomeçar do marco zero. Por isso PF recusa a informação didática (fichas técnicas, aliás a pesquisa foi publicada pela CEC) em benefício da informação de primeira linha, estrutural. E o resultado é um mosaico climático, cíclico-crítico, de grande sabor/saber cinematográfico. ou seja, crítica e reinvenção da lingaugem do tempo em que o café era a economia básica sem barulho de latas. Reinvenção abrangente desde o engatinhamento do próprio metacinema (Fazendo Fita de Capellaro). Síntese da sintaxe. Uma obra-prima que não pode melar como melou o material que lhe deu origem. Implosão: Do caos sejam os ecos caóticos. * * * Olho no olho, 71 mostrou também o melhor metacinemamericano: Myra Breckenridge. um filme que implode e explode com todo o cinema hollywoodiano. Um filme para quem vê/faz cinema? Lamenta-se é que anda cheio de "diretores" que não passam de alienados da linguagem. Solte-se um Myra sobre eles e a cuca funde. Não conhecem as citações e não querem admitir que se possa criar sobre elas. Continuam falando em cultura quando o lance já é a contracultura e torcem o nariz à metacrítica ou metavanguarda. Chegou o tempo de inserir a crítica no horizonte do provável, fazer dela uma extensão criativo-esclarecedora das estruturas fílmicas. * * * Metello do Bolognini é outro filme que não pode passar em branco. Filhote dos Companheiros, leva-nos em sua linearidade participante a torcer pelo personagem-título. É Bolognini ainda firme em seu pessimismo, a pessoa (aqui o realismo abordado como melodrama) defendendo o que se deve defender. Bom filme. * * * Em Família, que ainda deve estar em cartaz, surpreende como um dos melhores filmes nacionais dos últimos anos. O melhor da RF Farias, é o mais comovente já feito no pomar brasileiro. Um casal de velhos é recusado pelos filhos imbecis. Todos os atores estão bons. Paulo Porto faz uma estréia brilhante como diretor. Não percam. * * * Notícias da SAC: Ainda hoje prossegue o Ciclo Candeias. Estão sendo exibidos todos os filmes do cineastas. E sua exposição de fotos dos cineastas da Boca está na parede. Depois desse Ciclo, talvez seja feito um Ciclo Zé do Caixão. Sábado será exibido o filme mais libertário do cinema, L’AGE D’OR, de Buñuel. E em janeiro, o terrível JARDIM DAS ESPUMAS de Rosenberg. Pelo visto, o negócio é voltar a ser sócio da SAC. Jairo Ferreira |
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