Condensadores e diluidores

Tenho 22 anos. Gosto dos Irmãos Campos, Décio, Sganzerla, Bressane, Jairo Ferreira e outros poucos. Os boçais tomam uísque comemorando a semana. Os intelectuais continuam brincando de roda aos 50 anos. Saí do meu caixão ontem e fiquei (§) com os diluidores. Detesto os pré-Socráticos. O nudismo transatlâncxo não é a solução. Essa gente ainda não tem remédio de vida. Estão com o estômago vazio. Não entendem nada da minha antropofagia. Tupi continua sendo not tupi. Meu nome é Oswald de Andrade e não gosto de diluição.

No decorrer deste ano milhares de besteiras vão ser proferidas, filmadas, televisionadas e diluídas em nome da Semana de Arte Moderna que comemorou 50 anos desde que aconteceu. Oswald não vai tolerar essa repressão. Vai sair da tumba como se fosse um vampiro e romper a barreira de silêncio & burrice que tem se erguido a seu redor nesse tempo todo. A Janira que é Santiago já emprestou seus dentes de vampira para que Oswald possa deixar as marcas de seus dentes nos pescoços dos condensadores & diluidores. E eu que sou Jairo Ferreira e não tolero diluições vou publicar meu primeiro livro marcando meio século de incompreensão: Cinema Ainda É a Maior Diversão, contendo mapas culturais, roteiros contraculturais, sintaxes de metacomunicação, iconografias de olhares à esquerda e à direita como se o cinemamericano fosse o único. E essa mesma barreira de silêncio e burrice vai se erguer e se prolongar a meu redor, como se eu fosse uma extensão dos condensadores & diluidores, e não de Oswald.

Alguns condensadores: Batista mais que nunca com Paulicéia Fantástica, Callegaro, Sganzerla, Mojica com Ritual dos Sádicos. Carlão Reichenbach se definiu como diluidor com seu episódio anti-implosivo em Audácia e JS Trevisan em Orgia numa ambigüidade entre implosão & explosão. Não se conheceu melhor condensador que Jean-Claude Bernardet. Sérgio Augusto podia fazer alguma coisa mas preferiu se diluir em O Pasquim. E Márcio Souza que é um gênio se apagou na Zona Franca fazendo jingles como se fosse Sebas, Enzo & Callegaro. Tudo isso é altamente vergonhoso, como o fato da Ana Lúcia Franco estar fazendo fotonovela apenas para sobreviver sem nenhuma mística e/ou esquizofrenia. Realmente os marimbondos estão moribundos agora que estamos na janela com "p" temperando o bispo Sardinha, o Omeleto de Candeias & os cambaus da cabala reaça, todos em corrente alternada de 110, portanto de baixa temperatura informacional e sem nenhuma voltagem revolucionária. Acabei de proferir uma conferência sobre metacinema numa padaria sem massas. Me declaro enojado de tudo.

Agora aprendemos a ler/ver, relevar, rever/reler com olhos livres. Tal como Rubens Torres, o Edmar sacou que o lance é o deboche, o desdar sem "boom" & a avacalhação da Ioga porque só o Ocidente pode devorar o Oriente: Edmar já garantiu uma lata de negativo no meu LM libertário com suas tapeçarias anuais transadas ao redor e inside a grande cratera marciana. Foi muito bom adentrar o Oriente desorientado dos novos sistemas intergalaxiais. Foi muito esclarecedor. Só Artaud poderia ver discos voadores na Barra do Una. E agora aprendemos a revelar/revelar. Estrelas fechadas em negativos fotográficos. Meu nome é Oswald, não gosto de diluição. Prefiro plantar bananeira que fazer Ioga.

Cineastas do corpo e da alma, todos podem im/explodir desde que juntem e jantem suas forças criativas e/ou metacriativas ou não. Foi o que aconteceu quando celebrei com galalites intergalaxiais minha curtida e não cortada versão sem diversão de uma fotoaudiogrudi: Dias Melhores Virão, Cremilda, produção em mosaico JF, setembro de 71, o funeral da Boca do Lixo ao som de Rimbaud, Lautréamont e textos melhores que redigi como se fosse um locutor. Isso Ana Lúcia observou bem. O resto das transas só a Áurea sabe. E a sucata do lixão está nas mãos do Chiquinho, montador emplumado que sabe das coisas porque compra o Shimbun na rodoviária para ler e rir com estas besteiras criativas.

Atenção Kokuro, fiz um metajornal ao votar os melhores nos Diários reproduzidos no JT, e é por isso que vou a Tóquio saber do udigrudi japonês. Favor reservar essa passagem na Univertur, OK? Não agüento mais essa falta de know how. Fui ver A 300 km/h, com Roberto Carlos, um filme devagar quase parando (em cartaz no Pigalle etc.). Entramos em 72 como se fosse 84. Ser gênio aqui é ser idiota. Por isso preferi, caros leitores, o reverso da medalha.

Jairo Ferreira
(6/1/72)