Coisas Belas e Sujas, de Stephen Frears
Dirty
pretty things, Inglaterra, 2002
Stephen Frears já foi um bom metteur en scène, no
sentido clássico da expressão. Infelizmente, já faz
uns dez anos que seus filmes vêm se tornando mais irregulares e
frouxos. Este Coisas Belas e Sujas é, neste sentido, o fundo
do poço. Um filme onde mesmo aquela que era a sua mais indiscutível
habilidade, o trabalho com os atores, deixa muito a desejar (Chiwetel
Okonedo faz o que pode com o personagem que recebeu, mas os demais como
Audrey Tatou e Sergi Lopez estão de perdidos a péssimos).
È um filme
sobre imigrantes ilegais. Assunto pertinente, na pauta do dia (e não
à toa abordado em vários outros filmes recentes). Dele poderíamos
extrair diversas abordagens. Frears quer todas, ou seja, não quer
nenhuma. O filme tenta ser um olhar realista sobre as dificuldades destes
para sobreviver em Londres, tenta também ser uma comédia
a partir de choques culturais e das mesmas dificuldades, por fim quer
ser um thriller sobre tráfico ilegal de órgãos. Deste
choque de propostas nas mãos de um cineasta que tem algum controle
sobre seu material poderia resultar algo interessante, mas aqui elas só
evidenciam o quanto Frears estava perdido com o que tinha nas mãos
(e pensar que trata-se do mesmo diretor de Minha Bela Lavanderia...).
O que temos aqui é que o drama realista tira o humor das piadas,
as cenas de suspense matam a urgência da denúncia, o humor
tira a tensão do thriller, etc.
Pena também
ver como Frears (e o roterista Steven Knight) abordam de forma simplista
o material. Não há espaço para qualquer tipo de observação
sobre a vida destas pessoas, tudo nos é apresentado de forma esquemática.
Okonedo interpreta um verdadeiro anjo que passeia pelas ruas de Londres,
homem perfeito de valores morais inquestionáveis, apesar do passado
misterioso (e este quando se explica obviamente trata de eliminar qualquer
ambigüidade de caráter que ele poderia reter). Do outro lado,
os exploradores obviamente são aproveitadores bem malvados. A mão
de Frears pesa a todo momento. As cenas de humilhação que
as personagens passam são especialmente ruins (as envolvendo Audrey
Tatou, em particular, são patéticas). Os diálogos
entregam todos os possíveis sentidos do filme e a câmera
de Frears parece se esforçar para captar tudo da forma mais óbvia.
Completamente inócuo,
nem belo, nem sujo, um filme, em suma, medonho.
Filipe Furtado
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