Aos Treze, de Catherine Hardwicke
Thirteen, EUA, 2003

Tom. É só o tom de um filme que permite dizer a relação que o diretor desenvolve com o tema retratado, com os atores, com a maneira de se aproximar das questões colocadas, etc. A breve leitura da sinopse de Aos Treze não nos dá margem para supor se trata-se de um filme exploit sobre adolescência (à Larry Clarke), se é um relato da crônica de vida de uma jovem (As Virgens Suicidas) ou se é um exemplar perfeito de teen film comercial (100 Garotas, Dez Coisas Que Eu Odeio...). Assistindo, temos a pior impressão possível: travestido de olhar compreensivo e acolhedor, Aos Treze é um desses filmes que deveriam vir com a tarja "Cuidado, Pais" grudada ao poster. O acavalamento de situações "perigosas para a juventude" é tão recorrente que o filme logo deixa de fazer efeito e logo torna-se risível.

Rewind. Tracy é uma menina lindinha, apesar de um tanto travada (a fórmula Betty, A Feia, já patente em Mariana Ximenes, funciona aqui também: basta prender o cabelo e estar sem maquiagem para parecer "feia"). Tem treze anos e não está contente em ser uma menina deslocada em seu colégio. Os amigos de seu irmão só têm olhos para Evie, teen bitch da mesma idade com toques de Cindy Crawford e Jennifer Lopez. Tracy se aproxima dela, torna-se amiga e passa a viver a vida de pequenos furtos, receptação de droga, promiscuidade sexual e drogadição da nova amiga. No segundo plano da trama, a explicação: a ausência da figura paterna, a falta de atenção das mães (ou tutoras), inexistência de um horizonte moral a ser seguido. Aos Treze assume freqüentemente ares de um filme institucional de assistência social: a caracterização dos personagens e o encadeamento de situações não privilegia em nada a criação de densidade (em nenhum momento vemos como sedutora a glamurosa vida que nossa Tracy decide levar, e nem ao menos conseguimos julgar como válidas as decisões que a garota toma dadas as circustâncias em que ela cresce).

Longe de qualquer intenção de ficcionalizar fortemente sua trama, a diretora Catherine Hardwicke faz de Aos Treze um filme esquemático, sem o teor de provocação existente, por exemplo, em Kids ou Ken Park (e sem o gozo, principalmente), e absolutamente desprovido de profundidade. Cedo demais descobrimos que a intenção da diretora é enquadrar seus personagens (todos eles, em alguma medida ou outra) no divã ou numa instituição de guarda, reduzindo qualquer situação dramática à facilidade da apelação descarada (Tracy fazendo sexo oral com um namorado afro-latino e depois comentando com sua amiga que o gosto é amargo) ou à pura falta de senso dramático (a mãe retirando o piso da cozinha e derrubando sucrilhos no chão como acting out de uma crise familiar). A não ser que o leitor seja um pai zeloso com seus filhos e queira se precaver com o assustador mundo da adolescência que Aos Treze pinta, não há muitos outros motivos para passar perto do cinema...

Ruy Gardnier