Os Trapalhões na Guerra dos Planetas, de Adriano Stuart

Brasil, 1978


Ocupando uma posição singular na filmografia do grupo, Na Guerra dos Planetas não ficou muito longe em número de espectadores do filme parodiado. Lançado nas férias de verão de 1978 ele surgiu apenas para dar prosseguimento à sucessão de êxitos populares conseguidos pelos comediantes desde 1974. Em um período do cinema brasileiro marcado pela busca desesperada do sucesso de bilheteria e por um jogo mercadológico pesado, Os Trapalhões tomaram a dianteira e não foram ultrapassados por ninguém.

Uma das estratégias de sucesso testadas pelo grupo que demonstrou ser bastante eficiente foi a utilização da paródia. Aproveitando o êxito espetacular de um filme realiza-se a toque de caixa (para não perder o modismo do momento) outro relacionado intimamente à sua estrutura. A comédia paródica, gênero de forte tradição em nosso cinema, baseia-se em piadas e gags relacionadas ao modelo parodiado. O publico, após ver o filme “sério” e sofisticado, sente-se curioso em constatar a sua versão debochada e subdesenvolvida.

Existindo vários tipos de paródias cinematográficas, essa é a mais interessante. A paródia que não está ligada a seu antecessor apenas pelo titulo ou pela referência a seu universo e sim a paródia conectada à sua estrutura narrativa para com isso promover o seu deboche.

Na Guerra dos Planetas infelizmente não se encontra nessa categoria. O seu título e o local onde se passa a historia (um planeta distante) se refere ao estrondoso sucesso de 1977 e a sua relação com ele não fica muito distante disso. O filme dialoga com a Guerra nas Estrelas da mesma forma que o seu vilão Zurko se relaciona com  Darth Vader: através de uma mera roupagem.

Os Trapalhões colocaram a roupa do blockbuster mas não fizeram nenhuma piada em cima disso. Não houve nenhum escracho, o príncipe Flink que poderia ser uma brincadeira à figura de Luke Skywalker era sério demais. A única avacalhação paródica presente, mas possivelmente involuntária, são os efeitos especiais e os cenários utilizados. Involuntária porque se os produtores tivessem os recursos necessários para promover um espetáculo visual nos moldes do cinema industrial americano eles não hesitariam em utilizá-los.

As maquetes e os efeitos visuais esdrúxulos confirmam o nosso atraso técnico e econômico e ao invés de serem incorporados no discurso fílmico como uma critica à penetração cultural econômica, eles surgem atestando a nossa postura de submissão. A maioria das paródias desse período executam esse procedimento, inclusive as do realizador Adriano Stuart. Vinculado ao grupo de realizadores da Boca do Lixo, o diretor vai fazer uma paródia do Tubarão chamada Bacalhau (Bac’s) e outra ao seriado de televisão Kung Fu, Kung Fu Contra as Bonecas.

Precários ou não, os efeitos compõem a grande graça do filme e para o público alvo a sua defasagem pouco importa. O importante é o mundo mágico repleto de situações fantásticas e lúdicas que ele pode ajudar a criar. Quem com , 8 anos de idade não ficaria envolvido ao ver Os Trapalhões brigando com os seres invisíveis? E com a seqüência da discoteca intergalática?

Apostando na fantasia e na imaginação, elementos intrínsecos ao universo infantil, o quarteto segue a trilha dessa primeira fase também marcada por paródias à clássicos da literatura infanto-juvenil. Temos Ali Babá e os 40 Ladrões, Aladim e a Lâmpada Maravilhosa, Robin Hood, o Trapalhão na Floresta e Simbad, o Marujo Trapalhão. Filmes onde o clima de aventura repleto de piratas, tesouros e seqüências de ação se une de maneira harmônica à performance do grupo. O mesmo não ocorre em Na Guerra dos Planetas.

Baseando-se nos efeitos técnicos e nas cenas de perseguição e luta, o filme se depara com essas limitações. A trama é oca, os diálogos são mínimos porque o que importa é a ação. Os personagens são mal trabalhados, a história amorosa de Didi com uma linda nativa não é desenvolvida, o vilão não tem personalidade. As situações engraçadas onde poderíamos nos deliciar com a atuação do quarteto (esse é o primeiro filme com a formação completa) também foram postas em segundo plano.

Só veremos o desempenho dos comediantes em plena forma, pois aí eles terão a oportunidade de demonstrá-la, no filme seguinte, O Cinderelo Trapalhão, assinado pelo mesmo diretor.

Estevão Garcia