Meu Primeiro Homem,
de Christine Lahti

My first mister, EUA, 2002


Independente de seu comprovado talento como atriz e dos prêmios recebidos por sua estréia como diretora com o curta-metragem Lieberman in love, o que se verifica após assistir Meu primeiro homem é que Christine Lahti ainda tem um longo caminho a percorrer caso deseje desenvolver uma carreira de cineasta. Com poucos minutos já se estabelce um quadro de previsibilidade que pouco se modificará ao longo dos 105 minutos de projeção.

O ponto de partida do roteiro é extremamente simplório, contando a história de uma adolescente rebelde, problemática e sem amigos, J. (Leelee Sobieski) que sente-se atraída pelo careta e cinquentão gerente de uma loja de roupas masculinas, Randy (Albert Brooks), onde arruma um emprego. Os dois acabam desenvolvendo uma relação de amizade e dependência, dentro da velha linha de opostos complementares. Mas Meu primeiro homem demonstra desde o início uma série de fragilidades que começam por uma composição equivocada dos personagens. A insatisfação crônica de J. com a vida, apresentada como uma esquisitinha que se veste de preto, tem o rosto coberto de piercing e frequenta cemitérios é banalizada pelo exagero na caracterização de sua mãe (Carol Kane, uma boa atriz mais uma vez desperdiçada numa personagem boboca), uma quase débil-mental. Por outro lado, as motivações para as atitudes chave dos personagens carecem de credibilidade. É quase por um passe de mágica que J. descobre Randy e decide atrair sua atenção. Mais inverossímil ainda é o fato dele resolver dar àquela figura tão estranha a seu mundo uma oportunidade de trabalho.

Meu primeiro homem vai sendo tocado dentro de um clima pouco inspirado de comédia romântica, mesmo que seus protagonistas acabem por não manifestar um envolvimento amoroso. Pelo menos rola uma certa química entre a dupla de bons atores. Quando começamos a nos acostumar com os dois, o filme dá uma mudança de tom, com uma daquelas viradas de roteiro tão caras ao cinemão americano. E como melodrama sentimental, passa a funcionar um pouco melhor, embora não o suficiente para provocar um maior envolvimento do espectador.

No frigir dos ovos, o saldo na conta de Meu primeiro amor acaba ficando bastante baixo. A serem creditados somente o fato de mais uma vez comprovarmos que Leelee Sobieski é bonita de qualquer maneira e que o talento e o carisma de John Goodman são ainda infinitamente maiores que sua barriga, mesmo que usando uma peruca mal feita e num personagem pequeno cuja concepção beira o ridículo (o pai distante de J., um hipongo maconheiro). Não há nada que justifique sua inclusão na programação de um festival (nem mesmo uma possível escassez de títulos), ou mesmo seu lançamento comercial nos cinemas (a cópia já está legendada). O fato de sair direto em vídeo já seria um grande lucro para este filme que, como dizia Paulo Francis, desponta para o anonimato.

Gilberto Silva Jr.