Névoas, sombras e estranhamento
- as phantasmagorias sob a óptica do romantismo Parte
IV Antes
de passarmos as considerações sobre as possíveis
representações das fantasmagorias óticas na literatura
romântica, confrontando documentos jornalísticos, memórias
com a produção ficcional e poética do período,
faz-se necessário um rápido adendo que possibilitará
uma maior inserção no imaginário romântico,
ou melhor, nas motivações deflagradoras deste imaginário.
As visões distorcidas e as sensações evocadas nas
obras românticas devem muito de seu corpo ao estado propiciado pelo
efeitos de drogas, o que, de uma certa forma, pode confundir a identificação
e comprometê-la. Cinqüenta anos
depois deste relato, Charles Baudelaire presta sua homenagem ao maldito
inglês em seu livro "Um Comedor de Ópio", onde
analisa criticamente as Confissões, resgatando a vida e a genialidade
do escritor em palavras comoventes, as quais não seriam escutadas
por De Quincey, que, à época da produção do
texto, morre em Edimburgo com setenta e cinco anos. A admiração
de Baudelaire pelo escritor deve-se não somente pelo humor refinado
de seus textos, pela marginalidade a que foi relegado o autor de "Do
Assassinato Como Uma das Mais Belas Artes". Segundo Paolo Guzzi,
"antes de mais nada, ambos apreciam o ópio enquando droga
que induz à clareza mental, aguça a potencialidade da genialidade,
estimula o sonho e as fantasmagorias cultas." "O que se sente? O que se vê? Coisas maravilhosas, não é? Espetáculos extraordinários? É muito bonito? Muito terrível? Muito perigoso?- Essas são as perguntas comuns que fazem, um misto de curiosidade e temor, os ignorantes aos adeptos. Parece uma impaciência infantil para saber, como a das pessoas que nunca saíram do quintal das suas casas quando estão na frente de um homem que está voltando de países longínquos. Imaginam a embriaguez do haxixe como um país prodigioso, um vasto teatro de prestidigitação e mágicas onde tudo é miraculoso e imprevisto." O capítulo do texto onde o poeta descreve pormenorizadamente todas as visões e sensações provocadas pela ingestão da droga, chama-se, curiosamente, "Theatre de Sèraphin". Para Baudelaire, as fantasmagorias produzidas pelo haxixe eram similares as encenadas no famoso teatro de sombras chineses localizado no Boulevard Montmartre, cujas exibições tiveram um grande êxito antes da revolução e forneceriam as diretrizes para que Robertson e Phillidor desenvolvessem seu aparato fantasmagórico no final do século XVIII. Guilherme Sarmiento Clique aqui para ir para a quinta parte deste ensaio
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1. De Quincey, Thomas. Confissões de um comedor de ópio. RJ. Ed L&PM Pocket. Pp. 126-128 2.BAUDELAIRE, Charles. Um Comedor de Ópio in Clássicos Econômicos Newton, Rio de Janeiro; p10 |