Sobre a estrutura de O Invasor
Particularmente interessante a crítica de Eduardo
Valente sobre O Invasor, pois sugere que o personagem de Paulo
Miklos é inicialmente um personagem segundário, cujo destino
seria permanecer segundário. E que este personagem não quer
permanecer segundário, mas alcançar o status de personagem
principal junto com os outros. Esta colocação permite pensar
uma analogia entre o nível dramático-narrativo do personagem
e o nível da representação, no qual o personagem
quer participar da vida dos burgueses. Dessa forma, a reflexão
sobre a sociedade brasileira não se dá apenas no "conteúdo",
mas é trabalhada pela própria estrutura
dramática do filme, isto é, de forma mais profunda, significativa
e complexa que o nível do conteúdo e do enredo.
Compreender o relacionamento da obra com a sociedade no nível da
sua estrutura dramática e narrativa é o que há mais
rico nos trabalhos de análise literária e propostas teóricas
de Antônio Cândido e Roberto Schwarz. Penso que a análise
de quadros de Volpi por Rodrigo Naves se relaciona com a mesma metodologia.
Uma orientação da crítica cinematográfica
neste sentido me parece estimulante.
Jean-Claude Bernardet
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