Wadi Grand Canyon,
de Amos Gitai


Wadi Grand Canyon, Israel/França/Itália, 2001

Este mais recente filme de Gitai não pode ser comentado sem comparação com três filmes. Claro que a primeira coisa importante é citar que trata-se da terceira parte de uma série de documentários feitos a cada dez anos (desde 1981) sobre um mesmo local em Israel. Para o espectador brasileiro, que não teve a chance de ver os dois primeiros, fica esta lacuna ao longo do filme todo, pois a intimidade do diretor com os entrevistados e várias menções feitas ora por um ora por outros deixa claro que as situações mostradas anteriormente são importantes para entendermos na sua totalidade este aqui.

Mas, talvez a mais rica comparação possível seja com o filme Promessas exibido tanto no Rio quanto em São Paulo. Porque em ambos temos uma estrutura semelhante de entrevistas com palestinos e judeus alternadamente sobre a questão da vivência em Israel hoje. Mas, se no outro filme o foco são justamente as crianças, aqui a imensa maioria dos entrevistados é de idosos. E aí é que fica rica a comparação, porque enquanto as crianças representam justamente a terceira ou quarta geração vivendo dentro do sistema de conflito instaurado, os idosos aqui vistos são ainda aqueles que estavam presentes na criação do estado do Israel. E, assim como acontecia com o outro filme, é difícil saber se suas palavras são fruto de mais esperança ou de completo desalento. Porque, se por um lado ambos destacam sempre que não vêem motivo para a briga e falta de convivência e declaram uma disposição ao diálogo, ao mesmo tempo deixam sempre claro que não acreditam num encaminhamento pacífico, porque a cada ação violenta deve seguir sempre uma reação, num ciclo interminável. O que há de mais novo nas palavras destes idosos é saber que por muito tempo judeus e palestino conviveram muito bem, e que a animosidade atual é sim fenômeno recente. Uma entrevistada explica inclusive que nada impede um judeu de casar com um muçulmano, enquanto já um cristão não poderia.

Gitai radicaliza seu olhar micropolítico, já delineado nos seus filmes de ficção, procurando em um câncer de seio, em uma dentadura, em um shopping center, subsídios suficientes para traçar um painel sobre a Israel de hoje (e de sempre). Sentimos falta de saber mais sobre a origem destes personagens (ou seja, os filmes anteriores), mas mesmo sem isso, apre(e)ndemos muito.

Eduardo Valente