A
Sombra de um Vampiro,
de E. Elias Merhige
Shadow of the vampire,
EUA, 2000
A
sombra de um vampiro é
um filme interessante, porém, problemático. Parte de um
boato de que o ator Max Shreck, do clássico Nosferatu, de
Murnau, teria realmente algumas características em comum com o
seu personagem. O incrível realismo com o qual Max interpretou
Nosferatu realmente impressionou. Murnau procurou trabalhar também
com cenário naturais, locações. O filme é
de 1922, um período em que a distinção entre ator
e personagem ainda não é muito clara, onde a representação
no cinema ainda é encarada por muitos espectadores como um mero
retrato da realidade. Entende-se perfeitamente a aproximação
feita entre ator e o vampiro.
Merhige faz um trabalho
interessante ao reproduzir fielmente alguns sets de filmagem de Nosferatu.
O desenvolvimento da relação entre a equipe técnica,
os eventuais problemas de produção e o mistério em
torno da figura do ator são muito bem dispostos. Willem Dafoe está
muito bem no papel de Max, no início da narrativa ainda ambíguo
como um ator de método Stanislavskiano e também como um
possível vampiro. Entretanto, o filme começa a perder seu
encanto ao afirmar que Max é realmente um vampiro (vampiros então
existem, são concretos), Merhige fecha sua narrativa na caça
a um vampiro que fugiu do controle. Max passa a agir, agora sim, como
um verdadeiro vampiro deve se comportar. Torna-se o causador de todo o
mal que acontece no set de filmagem. A partir dessa possibilidade confirmada
e do fim de uma ambigüidade, o personagem de Murnau toma atitudes
bem comprometedoras e se mostra um diretor que leva a arte às últimas
conseqüências. Capaz de deixar sua equipe morrer para ter um
último plano perfeito de um vampiro, capaz de dar sua atriz principal
ao vampiro em troca de sua participação.
A proposta de Merhige
é bem ingênua ao tentar brincar com o efeito realista de
Nosferatu. Acaba por fazer um filme muito menos interessante do que poderia:
Merhige evita uma ambigüidade própria dos personagens do cinema
expressionista alemão e perde, assim, uma possibilidade de diálogo
mais intenso com a obra que tenta homenagear.
Marina Meliande
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