Promessas
de um Novo Mundo,
de Justine Shapiro e B. Z. Goldberg
Promises, EUA, 2001
Uma espécie
de desafio é proposto a crianças de Jerusalém: que
elas falem a partir de sua experiência cotidiana da situação
política da Palestina e de Israel. Ao longo de três anos
(entre 1997 e 2000) serão feitas entrevistas freqüentes com
um grupo pequeno, porém, bem variado de crianças na faixa
de 13 anos. Judeus e palestinos irão, dessa forma, defender a tolerância
ou o ódio, com visões bastantes elaboradas e maduras de
uma situação à qual estão "acostumados"
desde que nasceram. Uma cidade sitiada e sob o controle constante das
tropas israelenses. Uma cidade dividida em áreas bem marcadas seja
a partir de um campo de refugiados palestinos, seja a partir de áreas
de valor religioso para ambos, como o Muro das Lamentações.
A geografia será
de extrema importância ao se discutir direitos de cidadãos
e para definir determinado ponto de vista político por parte das
crianças. Os campos de refugiados são todos cercados, em
áreas distantes do centro antigo da cidade. A grande maioria dos
palestinos vive neles e tem sua locomoção controlada incessantemente:
precisa-se de autorização para se cruzar determinadas áreas
da cidade. Já os israelenses têm circulação
sem restrições por todo o território e moram principalmente
no centro. Uma diferença que por si só gera raiva: existe
um povo cidadão, e existe um povo em domínio, em refúgio.
E estamos falando de um período relativamente de paz; a guerra
não está declarada.
Quem é dono
da terra? Existem respostas religiosas, respostas históricas, respostas
totalmente pessoais. Essa talvez seja a grande contribuição
deste filme: trazer até nós respostas de todos os tipos,
uma heterogeneidade de visões sobre um assunto o qual é
tratado de forma muito extremada pelo senso comum, pela imprensa. Quando
personificamos esse assunto nessas crianças vemos que o ódio
é estimulado diariamente e o medo presente a todo instante. O judeu
que tem medo de tomar um ônibus para a escola e ser explodido por
uma bomba. O palestino que viu seu amigo ser morto por um policial israelense
durante uma manifestação. A palestina que usa a dança
típica de sua cultura para expressar uma mensagem de tolerância
e de paz.
O filme, cujo principal
diretor é um judeu americano, tenta e consegue de forma incrível
não tomar partido de um dos lados. Consegue fazer um contraponto
de visões que ao mesmo tempo as respeita e as confronta. E mais
importante que isso, consegue estimular as crianças a se interessarem
umas pelas outras. A partir de um interesse comum como o esporte.
Um encontro inusitado
e evitado diariamente por princípios morais e religiosos. Uma primeira
tentativa de contato entre crianças que acham que sabem o que as
outras crianças pensam. E aí vem o inesperado: crianças
palestinas descobrem que crianças judias podem ter gostos parecidos.
Podem conversar pacificamente sobre a Jerusalém dividida, sobre
a situação política de Israel e da Palestina. Crianças
judias percebem que viver num campo de refugiados é não
ter nenhum direito garantido, nem mesmo pode-se pedir uma pizza.
Um encontro realmente
especial que pôde mudar momentaneamente uma perspectiva de futuro.
Crianças que, talvez, tenham imaginado uma possibilidade para não
se perpetuar o ódio. Promessas de paz foram feitas. Um dos meninos
palestinos pergunta se eles vão voltar a se ver. Promessas talvez
impossíveis de serem mantidas quando o filme acabar.
Marina Meliande
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