Amor
aos Pedaços,
de Valerie Breiman
Love and Sex, EUA, 2001
Quantas vezes se pode
assistir ao mesmo filme sem ficar completamente exausto de ver as mesmas
cenas? A julgar por este Amor aos Pedaços ainda não
existe uma resposta definitiva. Afinal, é difícil que qualquer
pessoa em sã consciência consiga listar uma característica
que seja absolutamente peculiar deste filme, algo de original, algo de
inesperado. Tal coisa não existe aqui. E, no entanto, também
é difícil que alguma pessoa ao sair deste filme esteja irritado,
revoltado, ou que possa dizer honestamente ter detestado o que acabou
de assistir.
A verdade é
que existe sim um mínimo denominador comum universal (bem, talvez
não universal, mas certamente ocidental) de experiências
no que se refere a relações amorosas e os "causos" delas
provenientes que permite um número ilimitado de filmes a tratar
destes assuntos e receber sempre a aprovação sincera de
uma platéia que não pode deixar de se sentir refletida na
tela, estabelecendo uma teia de relação com o filme bastante
simpática a ele. Afinal, poucas são as pessoas que ao se
verem refletidas terão a coragem de não gostarem do que
vêem. E todas as risadas em um filme como este se baseiam na mesma
premissa: a de que o espectador possa pensar (ou dizer) "Ah, isso já
aconteceu comigo!" o maior número de vezes possível.
É verdade que
há sim a necessidade de um mínimo de honestidade e capacidade
de percepção do mundo por parte dos criadores para que tais
filmes não resultem por um lado absolutamente óbvios, e
por outro completamente ridículos. O segredo é dosar mais
do mesmo, mas sempre com algumas idéias, ou piada, nova. Os realizadores
que conseguem este controle, e contam ainda com bons atores, são
inevitavelmente bem sucedidos. E, inegavelmente, é o caso aqui.
Jon Favreau cria um personagem muito bom, ainda que a linha narrativa
seja da mais óbvia Fanke Jamssen. É tudo que precisamos:
um bom personagem nas mãos de um bom comediante, e uma sequência
isolada de boas sacadas e bons diálogos (como o que se refere a
sanduíches de queijo, ou as flatulências domésticas
ou a sessão de Nosferatu no cinema). Nada que não
se veja semanalmente nas melhores entre as "sitcoms" americanas, é
verdade, mas nada de errado com isso. O cinema mundial certamente nada
ganha de significativo com a adesão deste filme, mas também
ninguém perde nada, nem mesmo seu tempo, assistindo a este exemplar
dos mais típicos de um humor auto-crítico, "analisado" e
cheio de pequenas referências, que não podia ser mas típico
do seu tempo.
Eduardo Valente
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