Liam,
de Stephen Frears
Liam, Inglaterra, 2000
Inglaterra, entre
guerras, uma família vive feliz até que o patriarca se vê
desempregado com o fechamento da fábrica na qual trabalha. Com
dificuldades financeiras, os filhos mais velhos vão trabalhar para
que haja comida na mesa. Liam o filho mais novo, de uns sete anos, mantém
seus estudos em uma escola católica. Introduzido nas noções
de pecado, começa a olhar o mundo de forma mais medrosa, um mundo
altamente condenável pela Igreja.Uma Igreja que acaba se tornando
incompatível economicamente com o momento de crise pelo qual está
passando a família. O padre que bate na porta semanalmente cobrando
um soldo, as roupas caras necessárias para se freqüentar a
missa de primeira comunhão de Liam.
Judeus são
os donos das fábricas, das casas de penhores; são os patrões
da irmã de Liam. A família católica se vê dependente
economicamente de judeus enquanto o padre aconselha a se afastar deles.
Um grupo fascista se manifesta nas ruas e ganha adeptos, entre eles o
pai de Liam; um discurso que se faz mais forte no filme a cada cena de
esbanjamento da família judia, testemunhada pela irmã de
Liam. A contraposição da pobreza, da religião, dos
valores morais (a judia que trai o marido).
Uma raiva crescente
em função da diferença, uma raiva que condena a si
própria de forma moralista: ao se envolver com fascistas, o pai
de Liam participa de um atentado à uma casa judia e veja que coincidência,
acerta uma bola de fogo não na casa, nem na família que
está dentro dela, mas justamente em sua própria filha. A
empregada dos judeus que naquele exato momento está decidida a
se afastar da família que a leva a pecar. A condenação
do fascismo surge em função de uma visão extremamente
individualista e egoísta da questão. Uma visão que
em nenhum momento pensa no outro, no diferente, como vítima ou
como alguém que deve ser respeitado. Uma visão que pensa
o outro (no caso o judeu) como um participante de um sistema no qual não
se deve atacar somente para não ser atacado de volta.
A família de
Liam, sim, na visão de Stephen Frears, será uma vítima,
e de algo bem maior que ela, a História. Os personagens serão
essencialmente justificados pelo momento na qual vivem, numa visão
determinista demais do processo histórico. Ao pai de Liam é
dada uma chance de não fazer parte (concretamente) de algo que
será posteriormente condenado pela História. Ao acertar
sua filha, deixa de lado o discurso fascista tão coerente com o
ódio que estava sentindo. Stephen Frears julga seus personagens
com uma visão contemporânea demais, marcada pelas conseqüências
do nazismo. Não deixa com que seus personagens se sujem com as
circunstâncias do momento em que vivem. E a Liam sobra o papel de
distração dramática para alguns momentos de descanso
desse dramalhão todo. Até que o menino é engraçadinho...
Marina Meliande
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