Harry Chegou para Ajudar,
de Dominik Moll


Harry un ami qui vous veut de bien, França, 2000

Dá prazer entrar em um filme, deixar que ele te leve, sofrendo quando ele mandar, ficando apreensivo quando ele assim quiser. Fazer isso com o expectador sem que ele se sinta ridículo e simplesmente manipulado por truques meramente apelativos é para poucos. Só vale a pena se entregar ao filme quando ele instiga sem aquela imposição banal a qual a maioria sempre recorre quando quer emocionar, confiando apenas em clichês morais ou sentimentais.

Criando tensão fazendo uso da ótima atuação dos atores, ou simplesmente constrangendo a platéia mostrando situações onde os personagens não se sentem à vontade, Harry é um desses filmes que faz suspense manso, envolvente e cativante. Tudo vai acontecendo aos poucos, até culminar no que seria absurdo se não estivesse tão engenhosamente previsto ao longo de toda a trama. Muito diferente dos filmes de suspense mais fracos, aqui a música tem um papel importante criando os climas certos, não necessariamente nas cenas mais impactantes. Em Harry não importa apenas a ação violenta ou estranha, mas toda uma carga psicológica de seus personagens, seus pequenos atos, não diretamente ligados aos acontecimentos, que sugerem intenções fazendo o espectador ficar atento e curioso.

Harry é clássico. Não tenta inovar, definir tendências. É apenas um filme que se mostra capaz de manipular todos os elementos do suspense com clama e competência. E tudo funciona direito. Pode ser visto como uma homenagem ao gênero por entendê-lo de verdade. Em tempos de sangueira gratuita, mostra-nos que pode ser mais eficaz causar apreensão no público mexendo com seu imaginário, sua curiosidade, e não o submetendo a banais cenas de violência.

Quem vê se sente respeitado. O cinema se sente respeitado por encontrar um filme que trabalha toda a extensão da linguagem cinematográfica, sem sobressaltos, deturpações e exageros. Um filme muito tenso, porém calmo... lento... tranqüilo.

João Mors Cabral