Procura-se Um Amor em Barcelona,
de Susan Seidelman


Gaudi Afternoon, Espanha, 2000

 

O filme se passa em Barcelona, daí ser produzido na Espanha. Mas é um filme "americano". O inglês é a língua oficial falada pelos personagens principais. A narrativa é muito linear, o roteiro tem passagens tocantes, que levam o público a vasculhar seus mais ingênuos sentimentos de maternidade, de moralidade e amizade. Juliette Lewis aparece má e magrinha. Fora isso, Procura-se um amor... não tem mais muita coisa a oferecer.

Para não ser visto como mais um entre tantos, já que é exatamente isso, o truque escolhido pelo filme é já bastante conhecido. Mas como o público é disposto a engolir qualquer coisa com cara de diferente, é também funcional. Arma-se assim um circo de tipos humanos esquisitos, não definidos à primeira hora, buscando algo que não mostram e que acaba se revelando meio absurdo. É o desfile de situações improváveis de sempre, com a única função de fazer um filme normal ter uma aparência um pouco mais descontraída. Na tela, é a história de um casal nada, nem um pouquinho ortodoxo. A mulher procurando o marido em Barcelona, em meio a muito Gaudi, inventando uma conversa fiada para envolver uma tradutora "careta". E ainda há sexualidades confusas, dispersas, complexas e brigas pela guarda de filho.

Na aproximação dos universos do cinema clássico narrativo para o grande público com a temática militante dos filmes gays surge a falha de Procura-se um amor... Pode ser divertido trabalhar personagens que surpreendem pela escolha sexual em situações que não são esperadas, mas fazê-lo em um filme como esse, onde o que prevalece no final é uma questão moral nada profunda pode ser considerado apropriação indevida de temas ou recusa ao debate sério. O filme não quer fazer nada disso e cobrar algo parecido dele é radicalismo. Mas ao mesmo tempo, os produtores já deveriam ter previsto que esse tipo de colocação apareceria.

Se eles brincam com fogo, e usam elementos sobre os quais não tem muito controle, achando que tudo é uma grande festa de possibilidades, tramas e personagens, qualquer um pode se sentir no direito de julgar o filme que fazem de acordo com o caminho interpretativo que achar melhor. Já que é para misturar tudo mesmo...

João Mors Cabral