Concorrência
Desleal,
de Ettore Scola
Concorrenza sleale, Itália,
2000
O filme de Ettore
Scola, que está sendo apresentado agora no Rio de Janeiro por ocasião
do Festival do Rio, decerto cabe nas intenções do mesmo
festival, uma vez que é um filme bem narrado, com perfeito acabamento
técnico e dirigido por um diretor mais do que consagrado. Isso,
pitorescamente, servirá para que alguns impliquem com o filme,
já que, a princípio, ele não traz grandes novidades.
Afinal, sua narrativa é clássica, até talvez um pouco
esquemática demais, a música é usada para reforçar
dramaticamente a obra, os enquadramentos são bonitos, os atores
têm boas interpretações naturalistas, enfim, o filme
não traz nada de novo, não discute a linguagem cinematográfica,
e igualmente sua história será uma trama simples e recheada
de boas intenções. E nós, espectadores que tanto
nos esforçamos para perder o preconceito com filmes que pareciam
à primeira vista apenas filmes "mal-feitos", talvez agora
tenhamos que fazer o caminho inverso e despir nosso olhar de preconceitos
diante de filmes à primeira vista "certinhos", filmes
que agradarão a toda a família.
Porque Scola fez um
filme certinho, fez um filme bem acabado, sua história é
singela e cheia de boas intenções, mas o que talvez não
percebamos de imediato é que Concorrência Desleal
é um grande filme – que, diga-se, como convém a um grande
filme, adquire sentidos muito além das intenções
do seu autor.
Um filme sobre tolerância,
dignidade, respeito ao outro. O leitor está cansado dessa conversa
e acha que esse papo é velho? Pode ser, mas a lembrança
imediata que vem do filme é do que diz o oficial fascista a Umberto,
diante da recusa deste em tornar-se cúmplice da perseguição
ao seu concorrente Leone por ser judeu, ele lhe diz algo como "A
nossa época não permite que tenhamos boas relações
com judeus, com seus cúmplices ou mesmo com neutralistas!".
O filme já
foi finalizado há algum tempo, e por isso qualquer alusão
será apenas uma coincidência que a vida nos reserva. Mas,
para quem tiver dúvidas sobre a atualidade desse discurso, eu aconselho
uma leitura às declarações de George W. Bush, presidente
norte-americano, feitas na segunda semana de setembro do ano corrente.
Daniel Caetano
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