A
Comunidade,
de Alex de la Iglesia
La Comunidad, Espanha,
2000
Talvez a definitiva
piada de A Comunidade seja conseguir ser exibido em mostras de
cinema com a aura de "transgressor" – no caso do Festival do
Rio, dentro da mostra Midnight movies. Isso com certeza não
chega a ser um problema, uma vez que esta aura decerto não vai
incomodar quem vier a gostar do filme e igualmente divertirá bastante
quem o fez. Porque é isso A Comunidade, uma grande diversão,
uma gozação em cima de uma história baseada em clichês
do cinema – basicamente O Inquilino somado a uma história
envolvendo uma mala cheia de dinheiro, mas levar a sério o jogo
de referências cinematográficas não deixa de ser outra
forma de humor. Não é um filme para soltar o riso, mas tampouco
se deve esperar algo mais que uma história misturando suspense
e comédia. A não ser que alguém queira encarar sisudamente
também a mensagem final sobre os males da ganância...
Quer dizer, é
claro que o filme tem coisas que podem ser analisadas com rigor. Como
o uso da trilha sonora, os movimentos de câmera hiper-complicados
e principalmente a abertura do filme. Digo principalmente a abertura porque,
sendo ela uma homenagem às aberturas de Saul Bass para os filmes
de Hitchcock, ela nos revela paixão maior do seu realizador, que
é justamente pelo próprio cinema. Assim, justifica-se com
a mesma lógica já usada para os filmes de Tarantino a excessiva
violência que pontua uma comédia: é uma violência
cometida com personagens de celulóide, em nada diferentes de Tom
e Jerry.
Sim, é menos
criativo que os outros filmes do diretor Alex de la Iglesia, e sim, também
não oferecerá grandes surpresas, e, finalmente, sim, tem
alguns furos e problemas técnicos mínimos – algumas falhas
de continuidade, alguns personagens e relações um pouco
truncados – , mas nem por isso o filme deixa de ter seu charme e suas
boas piadas. Não tem vergonha de ser debochado e exagerado, e bobo
seria pedir do filme alguma seriedade. Não há razão
para isso.
Daniel Caetano
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