Fast Food Fast Women,
de Amos Kollek


Fast Food Fast Women, EUA/Itália/França, 1999

Qualquer crônica sobre a contemporaneidade já tem, de partida, uma certa simpatia: um risco enorme de ficar datada, um frescor de correr atrás do fugaz, do passageiro, e uma tentativa sempre perigosa de refletir as mudanças de comportamento da sociedade. Ao contrário dos filmes de reconstituição de época, onde o que se percebe é uma triste certeza sobre tudo o que fazer, esse tipo de crônica é um cinema da incerteza, um cinema que coloca tudo a perder e, nesse jogo, coloca também tudo a ganhar – enquanto o cinema dito oficial nada coloca em jogo e não ganha nem perde nada além de dinheiro.

Fast Food Fast Women, como tentativa de narrar o momento contemporâneo, é irregular, perde e ganha muitas vezes, mas é sem dúvida o filme de um diretor que gosta de se arriscar. O argumento não é grande coisa: uma mulher de trinta e cinco anos, não por coincidência chamada Bella, exultante de sensualidade, vive uma indefinição sentimental entre um homem mais velho e casado que não quer largar a família e um novo caso, um romancista que dirige um táxi. Paralelamente, o filme mostra as aventuras e desilusões sexuais dos clientes da lanchonete em que Bella trabalha: um sonhador e romântico, outro recalcado e fetichista.

Entretanto, Kollek consegue dar vida a seus personagens ao entregar todo o filme aos atores, ao fazê-los parte integrante da constituição do filme. Nessa aposta, sobressai-se a força da grande atriz que é Anna Thomson, atriz dotada de um corpo magnífico que sabe tirar dele toda a vitalidade dos atos físicos dos quais falava Stanislavski (o pouco famoso "segundo Stanislavski", menos psicológico e mais físico). Ela dá ao filme toda a graça e leveza que ele precisa para existir enquanto os senhores de terceira idade erram pela cidade à procura de seus desejos. Bella, ao contrário, fica muito no interior de sua casa, e tem plena satisfação sozinha, ao sair do banho e jogar a toalha pela escada de incêndio dos fundos do apartamento. Essas são facilmente as melhores cenas do filme.

Os problemas de Fast Food Fast Women se revelam nas atribuladas relações amorosas de todos os personagens que giram em torno de Bella: eles fazem entre si esquemas tão tortuosos que não se consegue escapar de um certo artificialismo do roteiro, e essas cenas nem sempre se salvam pelas escolhas estéticas do diretor – às vezes muito frouxas. Mas a mensagem do título do filme – hoje o sexo é de usufruto tão fugaz quanto comer sanduíche e batata-frita – é ao longo do filme suficientemente trabalhada.

Ruy Gardnier