A Essência da Paixão,
de Terence Davies


The House Of Mirth, Inglaterra, 2000

Primeiros anos do século XX, Nova York. Entre carruagens, luxo e sotaque inglês, A Essência da Paixão nos mostra mais um conto anti-moralista sobre hipocrisia e liberdade de ação, onde uma mulher luta para manter sua dignidade e coerência. Trata-se de um típico "filme inglês" com seus diálogos pomposos e bem humorados, e pela denúncia implícita da falsidade reinante nas relações sociais e pessoais na alta burguesia do início do século. Mas, o que há, então, de novo para ser visto no filme de Terence Davies? Tirando a curiosidade de ser um "filme inglês" ambientado em plena Nova York; não há nada!

Os envelhecidos elementos estão todos, amontoados: a mulher que desafia a sociedade, as amigas maliciosas, a tia velha ortodoxa e rica, os homens interesseiros, as carruagens, os jardins gramados... Tudo. Não se trata de uma atualização do tema ou de uma releitura – tanto a forma quanto o sentido do filme são obviedades girando em torno de um melodrama banal. Um filme sem vida própria, um "enlatado" que segue, à risca, o perfil do filme denúncia da hipocrisia da sociedade. Nada mais enfraquecido, nada mais batido. Uma mesma tecla, e pior, tocada da mesma forma... Tudo convergindo em final trágico e apelativo , para que se sinta pena da "pobre mulher" assolada pelos preconceitos sociais... Excetuando-se alguns diálogos de belo humor inglês venenoso e as interpretações que surpreendem positivamente, A Essência da Paixão estaria fadado à total insignificância.

Mas não cheguemos a tanto, sejamos mais sutis: ao menos em um par de cenas há uma interessante construção de tensão sexual contida entre os personagens de Gillian e Eric, com uma malícia reprimida angustiante... Mas é uma pena que isso tenha se perdido ao longo do filme, em decorrência do monotoníssimo conto sócio-moral que Davies (diretor e roteirista) se propôs a contar em intermináveis 140 minutos...

Felipe Bragança