Celebridades,
de Woody Allen


Celebrity, EUA, 1998

Celebridades chega ao Brasil com alguns anos de atraso, o que vem se tornando lugar comum no que se refere a Woody Allen, que passou pela mesma situação com seu Desconstruindo Harry (Deconstructing Harry, 1997). E isso, talvez, porque Allen está meio que espremido em um limbo: é pop demais para ser apreciado pelo público dito intelectual e intelectualizado demais para quem procura um blockbuster. O que se deu, então, foi que o diretor acabou indo parar no domínio do que é pseudo. E se chamar Bananas, A Rosa Púrpura do Cairo ou Hannah e Suas Irmãs de pseudo qualquer coisa é uma grande injustiça, a palavra cai como uma luva sobre este Celebridades. Só o fato de ter de assistir a Kenneth Branagh por quase duas horas num esforço incrível para ser Woody Allen, isto é, num esforço para interpretar exatamente a persona que o cineasta cunhou durante seus tantos anos de carreira já é de matar. Porque sim, Allen percebeu que hoje em dia está muito mais para terceira idade do que meia...

O plot do filme é típico do diretor: casal quarentão entra em crise, eventualmente se separa e cada um segue seu caminho, tentando nova vida, com, claro, eventuais esbarrões. O título do filme faz muito mais sentido se tomado em sua tradução literal: celebridade. Porque é exatamente a celebridade que Branagh/Allen procura, andando de um lado para o outro e se metendo nas maiores confusões de modo a conseguir que um roteiro seu seja filmado em Hollywood. Nessa busca ele acaba se deparando com figuras diversas, todas com a mesma finalidade na vida: serem astros; alguns, ainda em início de carreira, outros tentando se manter no topo e ainda aqueles que têm problemas para lidar com ela (no caso, Leonardo DiCaprio, ótimo talvez por estar interpretando o papel de sua vida).

E no final, lá no final, há uma mensagem. Os bons se dão melhor na vida que os maus. A esposa de Branagh, abandonada, acaba com um cirurgião rico e bem apessoado, enquanto que seu ex fica sem a namorada, que ele larga exatamente no dia em que ela se muda para a casa dele, sem a mocinha (aliás, quem ainda agüenta Winona Ryder a fazer mocinhas de 19 anos??) por quem deixou a namorada, e sem seu valioso roteiro, que a namorada abandonada atira ao mar. De fato, este filme só vem corroborar a irregularidade da carreira de Allen a partir da segunda metade dos anos 80. Uma pena.

Juliana Fausto