Anésia – Um Vôo no Tempo,
de Ludmilla Ferolla


Anésa – Um Vôo no Tempo, Brasil, 2000

Anésia é um triste exemplo do que o cinema brasileiro pôde ser no período dos incentivos fiscais: institucional, pouco criativo, com os méritos avaliados somente a partir da pretensa seriedade dos projetos e da vendabilidade aos assessores de marketing das grandes empresas. A esse respeito, o filme é exemplar. Que indústrias aeronáuticas não gostariam de patrocinar um filme sobre a primeira aviadora brasileira, Anésia Pinheiro Machado?

Anésia se desenrola a partir de uma longa entrevista, concedida – ao que aprece – em um longo take, sempre com a senhora na mesma posição e com a mesma roupa. Essa longa entrevista é sarapintada com algumas cenas de reconstituição ficcional pobremente realizadas e com muito material de arquivo, algum interessante. Daí que Anésia é um veículo de realização correta, mas profundamente tedioso – a vida da aviadora merecia mesmo um filme de longa-metragem? – e de formato equivocado – por que um documentário de longa-metragem ao invés de um telefilme em média-metragem a ser vendido aos canais de cabo?

Quanto à Anésia sem itálicos, a aviadora, ela é uma pessoa que em momentos pode ser amável, que certamente foi uma desbravadora e que merecia ter seu registro filmado e guardado pela posteridade – quem somos nós, aliás, para achar quem deve ou quem não deve ter seu registro filmado? Mas uma impetuosa aviadora merecia ser filmada de forma impetuosa. E impetuoso é tudo o que Anésia, com itálicos, não é.

Ruy Gardnier