Sérgio Alpendre
Revista Interlúdio

Quantos filmes você vê por ano ou por mês? O que pensa desta quantidade? Qual a sua relação com o circuito comercial?

Acompanho o circuito comercial sempre que posso. Ultimamente, por escrever na Folha e no UOL, tenho acompanhado mais de perto as estreias. Vejo e revejo muitos filmes por ano. Não saberia dizer quantos. Revejo muitos filmes quando preparo aulas. De três a cinco por dia, fora os trechos selecionados para mostrar aos alunos.

Que qualidades você valoriza em um crítico?

A clareza, a capacidade de olhar o filme com "olhos livres" (para homenagear o Carlão Reichenbach), a habilidade na construção do texto, a generosidade (algo cada vez mais raro na crítica), a humildade para saber que sempre há o que se aprender, e a paixão pelo cinema. Gosto também quando o crítico me faz pensar em aspectos que anteriormente eu não havia pensado.

Enquanto crítico, você pensa no que ficará de um filme daqui a 10 anos?

Não sou muito de profetizar. O crítico sempre responde a seu próprio tempo, sem se importar se está sendo injusto com algum filme. O tempo, contudo, costuma jogar para a superfície coisas negativas que muitas vezes parecem escondidas. O contrário é mais difícil, mas acontece também. Vale lembrar o óbvio. Os filmes não mudam, o que muda somos nós e o contexto histórico. Boa parte dos filmes que pensamos ser bons num primeiro momento não resiste a uma revisão após alguns anos por causa dessas mudanças.

Como você avalia a influência da crítica no meio cinematográfico (realização, distribuição, público etc.)?

Pelo que sinto, é cada vez menor. Justamente porque, por causa dessas pragas de redes sociais, todo mundo se considera crítico hoje em dia.

Quem é o público leitor de crítica? Você pensa de que maneira serão recebidos seus textos?

Penso porque escrevo para veículos diferentes. Público mais amplo (UOL e Folha), mais restrito, mas não tanto (Interlúdio), e um gueto de cinefilia que se aproxima e distancia dos dois tipos acima citados (catálogos de mostras, por exemplo). Tento aproximar os textos de um ideal que seja comum a todos os tipos de leitor, mas nem sempre é possível. E não sei se é o melhor a se fazer.

Você considera que a crítica é influenciada pela visão política e por valores pessoais? Como você avalia isso?

É influenciada, sim, por valores pessoais. Porque é inevitável. O ideal é se policiar para que tais valores não ceguem o crítico para as evidências do filme. Acho nefasto criticar um filme porque não condiz com sua visão política, como aqueles que criticaram os filmes do John Milius pelo cunho supostamente direitista de suas histórias.

O que o leva a ler/escrever uma crítica?

Bom, acho que no princípio de tudo está a paixão por cinema, né? Sem essa paixão o trabalho do crítico é sempre manco, na melhor das hipóteses. Muitas vezes há uma vontade de entender e pensar o filme mais racionalmente, o que é mais fácil se eu escrever sobre ele (desde que o texto saia melhor estruturado que a ideia na cabeça, o que nem sempre acontece). A vontade de ler vem do filme, geralmente, ou do autor. Varia bastante. Mas tenho lido mais outras coisas.

Considera que, no seu trabalho crítico, há uma diferença de abordagem para os filmes brasileiros?

Espero que não. Acho que seria um grande equívoco de minha parte. É algo que evito com rigor.

Diga honestamente o que você pensa do panorama da crítica de cinema no Brasil hoje. É positivo ou negativo?

Negativo. É algo mundial, na verdade. A crítica perdeu seu valor, em grande parte por culpa dos críticos. Não é irreversível. Mas pelo andar da carruagem, é muito difícil – quase impossível - virar o jogo.


 Abril de 2013