Tarkovski à luz de Blanchot
por Luiz Rezende Filho
Anatol Solonitsin em Solaris O cinema de ficção científica do final dos anos sessenta e início dos anos setenta nos trouxe, pelo menos, duas obras de grande impacto para o gênero: 2001 - Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick, e Solaris, de Andrei Tarkovski. Ambos inovaram não só porque criaram uma nova estética para o "cinema espacial", mas também porque levantaram questões inéditas e temas raramente abordados com tamanha profundidade. Adaptados de obras literárias de sucesso, foi no cinema que encontraram espaço para sua expressão maior.
A despeito da oposição que se pretendeu levantar entre 2001 e Solaris, que, para alguns críticos seria uma resposta soviética ao filme americano, no contexto da guerra fria, os dois filmes tem diversos pontos em comum e chegam, por vezes, a conclusões semelhantes. Tanto 2001 quanto Solaris nos mostram a viagem do homem às fronteiras do universo conhecido e o seu encontro com um certo tipo de inteligência extra-terrestre bastante misteriosa. Encontros inconclusivos, estes, mas que resultarão, nos dois filmes, mais num reencontro do homem consigo mesmo do que com o que lhe é mais exterior e distante.
Mais do que levantar hipóteses sobre o universo e sobre o futuro da exploração espacial humana, 2001 e Solaris trazem antes questões profundamente humanas e contemporâneas. Em 2001, Kubrick abordará temas como a origem e a evolução humanas: o homem como ser em constante transformação e luta com o meio. Em Solaris, através das imagens que são ressuscitadas da memória dos homens, Tarkovski vai falar da natureza da imagem, da desqualificação da cópia e do simulacro, e colocar em cheque a hierarquia entre o real e o imaginário.
A todas essas questões nos parece pertinente abordá-las, aqui, sob a luz de dois textos de Maurice Blanchot. Para as questões referentes à imagem, em Solaris, será importante voltar às idéias de Blanchot a respeito da natureza da imagem em "As Duas Versões do Imaginário".
Solaris
Poderíamos ver em Solaris, filme dirigido por Andrei Tarkovski em 1971, um questionamento bastante pertinente a respeito da natureza da imagem, apesar de não ser este, textualmente, o tema do filme. Solaris é um planeta gigante quase que inteiramente coberto por um único oceano, objeto de estudos de uma estação espacial. Como a estação passa por uma série de problemas de ordem desconhecida pelo comando da missão na Terra, é, então, enviado o cientista Kris Kelvin para levantar as condições de operação da estação e determinar a necessidade ou não de sua desativação.
O filme tem início justamente na véspera da partida de Kelvin, quando este se encontra na casa de seus pais. É aí que Tarkovski nos fará um primeiro perfil do personagem, mostrando aspectos de seu relacionamento com os pais, sua postura inicialmente cética em relação ao conhecimento não científico, e ainda um amplo panorama de suas memórias de infância: a casa, o campo e todo o ambiente onde ele teria sido criado.
É também aí que Kelvin entrará em contato com o ex-piloto Berton, que, em Solaris, teria, anos antes, protagonizado um episódio ainda não satisfatoriamente explicado. Berton alega ter visto, em missão de busca por um companheiro perdido no oceano de Solaris, se formarem, sobre a sua superfície, estranhas imagens e formas humanas. A investigação realizada conclui o caso afirmando que Berton, sobre os efeitos dos gases expelidos pelo planeta, teria tido alucinações. Mas Berton irá revelar a Kelvin que as imagens vistas sobre a superfície do oceano não poderiam ser alucinações pois vinham, como depois ele iria descobrir, da memória do companheiro perdido no oceano. Tarkovski já nos mostra, neste ponto, toda a gama de temas que ele irá tratar no decorrer do filme: o estatuto da imagem, da memória, o real e o irreal.
Quando Kelvin chega a Solaris, encontra a estação espacial em total desordem. Dos três últimos ocupantes da estação - Gibarian, Snout e Sartorious - Gibarian havia se suicidado e os outros dois relutam em fornecer a Kelvin quaisquer informações sobre o que está acontecendo na estação. Além disso, Kelvin encontra diversos elementos estranhos ao ambiente da estação, como brinquedos de criança e outras pessoas, que não deveriam estar ali: uma mulher que caminha fantasmagoricamente pelos corredores, um anão no laboratório de Sartorious e uma pessoa deitada no fundo do quarto de Snout. Kelvin não consegue entender a natureza dessas "visões", a que os outros chamam "visitantes". Pensa inicialmente estar tendo alucinações, hipótese que logo descarta devido à visível materialidade dessas imagens. Também acredita estar enlouquecendo, afetado pela estranha influência do planeta.
Mas é apenas quando Kelvin recebe o seu próprio "visitante" que poderá começar a entender o que está acontecendo. Deitado em sua cama, ele vê, sentada no fundo do quarto, a imagem de uma jovem mulher. Eles se reconhecem e interagem. Kelvin pode provar a existência física e real daquela mulher, que não é apenas "uma imagem", uma alucinação. Kelvin não pode acreditar na presença real daquela pessoa - Hari, sua ex-mulher morta há anos atrás - e não pode explicar tampouco a sua existência (um fantasma?). Instintivamente, desconfia daquela imagem e tratará dela com cautela.
Seguindo seu impulso inicial e em resposta à sua desconfiança em relação àquela "cópia" de Hari, Kelvin decide retê-la, durante algum tempo, até que saiba o que fazer com ela, na cabine de um pequeno foguete. Acidentalmente, no entanto, ele acaba lançando-a para fora da estação. Para seu horror e alívio, ao mesmo tempo, acredita ter se livrado da aparição. No entanto, como Snout lhe explicará, ele não poderá fazê-lo definitivamente. A imagem que Kelvin vê como sendo a de sua mulher é a materialização das imagens que sua memória guarda dela, reconstruída pelo oceano de Solaris, assim como todos os outros "visitantes" são materializações das memória, ou das mentes, de cada um deles. A cópia de Hari poderá retornar, desta forma, indefinidas vezes.
E por ser explicada e entendida como cópia, Hari, apesar de toda a sua materialidade perceptível - ou o seu corpo, ou melhor, a sua imagem - despertará, assim como as outras imagens vindas do oceano de Solaris e assim como despertou inicialmente em Kelvin, toda a desconfiança dos habitantes da estação. Essas imagens - os chamados visitantes - são compreendidas como artifícios gerados pelo planeta para desmobilizar a ação dos integrantes da estação. Potencialmente enganadores, são vistos como imagens, cópias, aparições ou fantasmas destinados a confundir e desviar os homens de seus caminhos.
É neste sentido que os "visitantes" de Solaris, apesar da materialidade comprovada de seus corpos, são imagens: porque são cópias de um objeto que tem ou teve existência, ainda que apenas mental, mas não correspondem - numa visão negativa da imagem - ao objeto original e podem tomar seu lugar para produzir engano. É uma primeira concepção da imagem que desconfia de seu poder de mímesis e lhe recrimina a mentira de estar no lugar de alguma coisa que não é ela própria: a imagem não é o objeto que ela representa, e, aqui, em Solaris, poderíamos chegar mesmo a dizer que o objeto não é o que ele representa, sendo apenas a sua imagem.
Como diz Blanchot, "a imagem está depois do objeto (...) e depois significa que cumpre que a coisa se distancie para deixar-se recapturar". Depois de sua morte, seu distanciamento definitivo como objeto ou como ser, o que sobrou de Hari, o que veio "depois" dela, foi apenas a sua imagem, guardada em fotos ou na memória de Kelvin. É essa Hari, tornada imagem, inapreensível e inatual, como a imagem de um morto, que Kelvin vê, pela primeira vez, como alucinação. Mas essa imagem torna-se "coisa" novamente quando se reaproxima e toda a sua materialidade pode ser experimentada: Kelvin acredita que sua mulher voltou, mesmo que ela seja um fantasma. Mais um vez, no entanto, a coisa se afastará para dar lugar à imagem. Kelvin não reconhece, em profundidade, o comportamento de Hari e passa a crer que ela não é a verdadeira Hari, que ela é uma cópia, uma falsificação, um autômato que substitui a Hari original, uma imagem que, de novo, substitui, a coisa distanciada.
No entanto, essa concepção da imagem não é o bastante para dar conta da complexidade do que acontece na estação de Solaris. A desconfiança que leva Kelvin a prender a imagem de sua mulher em um foguete torna-se dúvida quando ele percebe que a imagem acredita sinceramente ser Hari. Ela "humaniza-se" e Kelvin se vê incapaz de negar-lhe o lugar de esposa e de tentar usar essa chance para corrigir os erros do passado. É óbvio que se poderá sempre achar que esta "humanização" é mais uma estratégia para enganar. No entanto, a dúvida permanece, e Kelvin passa a acreditar na inocência de Hari. Este será o seu conflito. Toda a sua racionalidade está indefesa frente à intrigante natureza daquela "imagem-objeto" que ele não pode mais definir: cópia, memória, ser independente.
Da desconfiança e da dúvida, Kelvin passará ao fascínio pela imagem de sua mulher. Fascinado pelo que não há ou pelo que ele sabe não ser, Kelvin fixa "a coisa quando esta "mergulhou em sua imagem", como diz Blanchot, diante da qual ele não tem mais poder de ação, ele se rende à passividade do fascínio e se deixa à mercê dos carinhos da mulher-cópia. Kelvin passou da desconfiança, que lhe demandava uma ação destruidora, ao fascínio, que lhe rouba toda iniciativa para deixá-lo à completa contemplação. É interessante como a postura de Kelvin em relação à segunda Hari é completamente diferente da primeira, sendo, ao mesmo tempo, paradoxal. Com a primeira Hari, inicialmente, Kelvin acredita estar vendo uma alucinação, pois a sua mulher não poderia estar ali no fundo do seu quarto. Mas quando ele percebe a materialidade daquela alucinação, passa a acreditar que ela é real e que, em contrapartida, ele estaria louco, pois aquela situação é impossível. A partir do momento em que ele vê que aquela mulher tem o comportamento restrito apenas a um conjunto de atitudes e que sabe coisas que não poderia saber, porque ela é fruto da sua memória, passa a desconfiar que ela não é Hari, que ela é uma cópia. Ela existe realmente como objeto, como ser, não é uma imagem, portanto, mas também não é sua "legítima" esposa. Ele precisa, então, se livrar daquele corpo idêntico ao de sua mulher, que não é uma imagem, nem uma alucinação, que existe materialmente, mas que não é a sua mulher e apenas pretende se passar por ela.
Com a segunda Hari, Kelvin mantém uma outra relação, ele a entende de outra forma. A coisa - a primeira Hari que Kelvin acreditava ser real como um objeto, daí a necessidade de sua destruição - volta a ser imagem, a coisa mergulha novamente em sua imagem e pode existir em sua irrealidade de imagem que fascina. Temos, assim, um mesmo objeto - que aqui decidimos chamar "a imagem de Hari" - que irá assumir diversos sentidos de acordo com a visão de Kelvin: uma imagem-alucinação, que passa a ser fruto da mente de um louco, que passa, em seguida, a ser vista como uma mera cópia, uma coisa, para chegar a ser uma imagem fascinante. É o percurso dessas imagens, ou mais especificamente de uma imagem, a de Hari, que luta para se equiparar à coisa - a verdadeira Hari, a Hari humana - ou para ter uma existência independente dela, que será mostrado em Solaris.
* * *
No início, Kelvin desconfia da imagem de Hari que vê no fundo do seu quarto na estação. Ele acreditava, então, mesmo que só por um momento, que o planeta se utilizava da semelhança da imagem com sua esposa para desviá-lo, diria-se, de sua missão na estação. A imagem é vista, por ele, como uma tentação, uma tortura, uma potência perigosa que envenena o homem.
Mas, ao mesmo tempo que Kelvin não pode resistir aos apelos físicos da imagem - a semelhança - também percebe que aquela imagem é mais complexa do que ele inicialmente supôs. Sua desconfiança se torna dúvida em relação à natureza daquela imagem. Hari - a imagem - não tem consciência de si, não sabe que é uma cópia, um dublê e acredita sinceramente que é Hari. Suas memórias também são confusas, não reconhece seu rosto no espelho, não sabe exatamente de onde veio, nem como chegou ali. Kelvin começa a ultrapassar, agora, seu temor inicial. Ainda que a imagem minta, ele vê, nessa nova Hari que lhe foi concedida, uma oportunidade de recuperar algo perdido.
Kelvin adota, assim, a imagem de Hari produzida pelo oceano de Solaris como a sua esposa ressuscitada. Ele pretende, desta vez, corrigir os erros que a levaram ao suicídio e protegê-la como não havia feito antes. Ao contrário de Snout e de Sartorious, que escondem seus "visitantes", com medo que elas tornem público algo que lhes é muito íntimo, Kelvin expõe Hari à convivência da estação e aos ataques de Sartorious, para quem é absurdo o tratamento "humano" que Kelvin dá à "cópia" de sua mulher.
Sartorious aparece como o principal defensor da concepção negativa da imagem - aquela de que também Kelvin compartilhava, inicialmente. O conflito que ocorrerá entre Kelvin e Sartorious é o conflito entre duas concepções diferentes da natureza da imagem. Enquanto Sartorious acredita que as imagens enganam e são perigosas, Kelvin parece estar muito mais inclinado a achar, agora, que elas têm uma vida independente de seus "objetos", de seus "originais" e que não são cópias de pessoas reais. Além disso, a existência dessas imagens não obedeceria, ou melhor, não estaria submetida a nenhum objetivo preestabelecido - fazer malograr a estação, por exemplo. As imagens não teriam, assim, significado, nem sua existência um sentido.
Como diz Blanchot, "a imagem de um objeto não somente não é o sentido desse objeto e não ajuda à sua compreensão, mas tende a subtraí-los na medida em que o mantém na imobilidade de uma semelhança que nada tem com que se assemelhar". Mas às imagens sempre se pode dar um sentido, o que, para Blanchot, significa inverter a relação que lhes é própria: a imagem passa a vir depois do objeto e é o que permite "enunciá-lo" em sua ausência. O conflito entre Kelvin e Sartorious é, num certo modo, o conflito entre estas duas versões possíveis para a imagem. Sartorious procura inseri-la numa rede de significados e sentidos: a imagem de Hari, como as dos outros visitantes, é uma resposta do planeta Solaris à intervenção da estação e visa desmobilizá-la. Ela não é a verdadeira Hari, apenas ocupa o seu lugar. Este é o seu sentido. Uma vez que se coloca a imagem a serviço da verdade do mundo, como diz Blanchot, a imagem torna-se a seqüência do objeto e a adequação entre imagem e objeto passa a ser a questão principal. Se essa adequação não se verifica e não se confirma, então a imagem mente. Ela foi manipulada para criar uma verdade. Esse é o poder "maléfico" e enganador que se critica à imagem. É essa, em linhas gerais, a visão que Sartorious tem das imagens de Solaris. As imagens não correspondem aos seus objetos, são portanto manipulações que visam a um objetivo determinado. E essas imagens não correspondem aos seus objetos porque os substituem onde a própria natureza - a própria verdade do mundo - as proíbe de substituí-los: elas ultrapassaram a morte, o tempo e o espaço. Elas pretendem passar por aquilo que não são. Elas estão onde não deveriam estar. Não são portanto aquilo que elas representam.
Essa é uma possibilidade para a imagem. No entanto, ao mesmo tempo, a imagem só pode ser um perigo, só se pode recriminar-lhe sua grande mentira, quando ela é, como diz Blanchot, recapturada para servir à verdade do mundo. O "uso" que Kelvin pretende fazer da imagem de Hari é bem outro. A interpretação que ele faz da Hari ressurgida - ou a interpretação que ele não pode fazer dela - é bem diversa da de Sartorious. O reconhecimento da imagem - "esta é minha mulher" - não o ajuda a compreendê-la, nem a obter-lhe o sentido. A Hari de Solaris não age como a Hari da Terra. A sua atitude diferente faz supor que ela seja um outro ser que se encontra, no entanto, preso numa semelhança "que nada tem com que se assemelhar". Remeter a imagem ao objeto - a Hari de Solaris à Hari da Terra - e fazer-lhes comparações, procurando a boa adequação entre o objeto e a sua representação, suas correspondências ou diferenças, não será mais proveitoso, pois a imagem escapa ao reacoplamento com seu objeto, não corresponde ponto a ponto com ele uma vez que apenas a semelhança é traço comum. A imagem de Hari se torna um outro objeto, um outro ser (daí talvez a sua "humanização", termo nada exato pois suporia o humano como modelo, como fim) pleno de singularidades próprias que não existem em outra imagem-objeto. A Hari de Solaris não é a cópia da Hari da Terra; ela é antes a materialização da memória que Kelvin tem de Hari - o que não é, absolutamente, Hari. Entre as duas Haris, ou as várias Haris que possam existir, de nada serve tentar determinar qual é a original qual é a cópia. É o estatuto do verdadeiro e do falso que não pode mais proceder, pois não se trata mais de procurar a justa adequação entre objeto e representação (estas categorias, mesmo, não fariam sentido dentro desta concepção de imagem). A imagem se torna objeto não por graça de uma ascese, mas pela impossibilidade de interdeterminação entre imagem e objeto, entre cópia e original.
Com o desenvolvimento do filme, este conflito, entre a concepção da imagem enganadora e o suicídio de Hari não evitado por Kelvin, uma nova ressurreição - já que as cópias são incessantemente reproduzidas pelo oceano - e um novo suicídio se seguirão. Kelvin parece condenado a viver eternamente o momento que pretendia "corrigir" e ver se repetir o que ele desejava apagar de sua memória.
O destino de Hari parece estar selado. Ela se faz desintegrar em uma máquina, enquanto Kelvin, febril e perdido em divagações, não pode impedi-la. Seu suicídio pode, então, acontecer e ela não mais voltará já que novas mudanças ocorrerão em Solaris.
* * *
Depois de enviarem, através de ondas de rádio, o encefalograma de Kelvin em direção ao oceano de Solaris, mudanças começam a ocorrer na estação e na superfície de Solaris. Os visitantes não aparecem mais, nem mesmo Hari, e ilhas começam a se formar no meio do oceano. Parece ter início uma nova fase para a Solarística.
Curado da febre que tivera início quando seu encefalograma foi enviado a Solaris, Kelvin parece conformado com o desaparecimento de Hari. Para ele, sua missão em Solaris está cumprida e, não tendo esperanças que Hari volte, acredita que, retornando à Terra, não terá problemas em se readaptar. No entanto, Kelvin não deseja abandonar as pesquisas em Solaris. Numa curta cena, na qual conversam, Snout lhe diz que está na hora dele - Kelvin - voltar para a Terra. O que se segue são planos do mesmo lugar que é mostrado no início do filme: a casa do pai de Kelvin. Vemos Kelvin caminhar pelos mesmos campos onde esteve antes de ir para Solaris e até aí achamos que ele voltou para a Terra. Mas, depois de algum tempo, a câmara começa a se afastar e, subindo, podemos ver que toda a extensão de terra por onde Kelvin estivera andando - a sua casa na Terra - é, na verdade, uma ilha no oceano de Solaris.
A despeito de todos os significados que se possa dar a esta cena final do filme, ela não parece querer dizer que Kelvin permaneceu na estação ou encontrou em Solaris, tal como encontrara Hari, uma cópia de seu ambiente familiar. Ao contrário, passamos a acompanhar a existência de um outro Kelvin, produzido por Solaris como resposta ao encefalograma enviado. Não uma cópia de Kelvin, mas um outro ser feito à sua imagem e semelhança.