FESTIVAL DO RIO 99
críticas dos filmes em exibição

   SUGAR TOWN, de Allison Anders e Kurt Voss

EUA, 1999


O que mais surpreende em Sugar Town é saber que foi uma produção completamente independente, fruto do descontentamento de Anders com sua incapacidade de conseguir filmar em Hollywood. Ou seja, é um projeto verdadeiramente pessoal e de produção baratíssima. Anders e Voss resolveram mostrar histórias de uma cena que conhecem bem, a cena musical californiana, mas pelos olhos dos seus "rejeitados", ou seja, aspirantes a estrelas, ex-líderes das paradas decadentes, músicos de estúdio.

A forma como estruturam sua narrativa deve muito ao Altman de Shortcuts e Nashville, o que significa que tentaram conectar várias histórias separadas numa linha que traçasse uma painel geral das relações neste meio. A partir de uma idéia como esta muito se poderia esperar do filme, mas a decepção é completa. Ao invés de buscar uma maior verdade dentro deste universo a partir da sua privilegiada posição como outsiders, os diretores parecem fazer um típico filme independente "vestibular para entrar em Hollywood". Tudo muito certinho, cheio de clichês, linhas de história francamente constrangedoras (como a do filho bastardo que surge na vida do ex-roqueiro ou a da aspirante a cantora e seus subterfúgios à la A Malvada ou ainda a da mulher que não consegue arrumar neste meio cheio de interesses um homem que a namore pelo que ela é — argh!!) e um completo desinteresse em ilustrar qualquer coisa de novo. O único interesse do filme (arqueológico talvez) é contar no elenco com os verdadeiros roqueiros da década de 80 John Taylor (Duran Duran), Michael Des Barres (Power Station) e John Doe (X), o que, cá entre nós, não chega a ser motivo para nenhuma comoção. Após um início de carreira promissor com Gas, Food and Lodging, Anders tem caído de nível profundamente, e com este Sugar Town atinge o mais baixo ponto de sua carreira.

Eduardo Valente