La Classe de Neige, de Claude Miller

(França, 1997)

La Classe de Neige aparece primeiro como um filme sobre pressão paterna. A primeira cena, em que os pais fazem um verdadeiro questionário aos professores que vão levar os alunos para uma excursão (a tal “classe da neve”), é muito bonita. Mas logo depois vemos que a intenção do filme não é colocar a nu as relações doentias entre pai e filho, e sim fazer o espectador entrar nelas. Existe algo de muito desagradável em transformar os problemas dos outros em espetáculo (nesse sentido, Os 92 Minutos do Sr. Baum é o anti-Classe de Neige). As cenas de pesadelo do menino são filmadas com tanto apuro quanto infâmia, e a neurose é partilhada entre a audiência. Não é nem o caso da psicologia do filme ser rasteira (o que também é, já que os sonhos são plenamente racionais), é o caso dela ser sem propósito.

Mas o pior do filme é seu desenrolar. Depois de um (mau) estudo histérico sobre pressão paterna, o filme vira um (novamente mau) estudo sobre paranóia infantil. O garoto deseja a morte do pai (outro tema psicanalíico e, para variar, rasteiro), e realiza seu desejo numa trama tão inverossímil quanto neurótica. Ao vermos o pai preso, com um capuz, sendo escoltado pela polícia, sentimos que o diretor merecia o mesmo destino, pois transformou um crime micro numa neurose coletiva.

Ruy Gardnier