Nas Profundezas do
Mar sem Fim
(The Deep End Of The Ocean),
de Ulu Grosbard (EUA, 1998)
Ruy GardnierNas Profundezas do Mar sem Fim é um desses filmes tese-antítese-síntese. Temos uma situação dada, pré-dialética. Depois, instaura-se uma situação, um fato narrativo (tese). O filme se desenrola da relação nova que esse fato desenvolve com a situação precedente (antítese) até que o filme conclui com a adaptação da primeira tese ao conjunto geral, devidamente podada de todo seu possível conteúdo subversivo (síntese). Essa fórmula reformista, notadamente reacionária, é seguida sem brilhos maiores nesse filme familiar (no conteúdo) e industrial (nos objetivos). Michelle Pfeiffer perde seu filhinho de três anos e, por nove anos (e nove anos muito incomodantes para o espectador...), fica sem saber seu paradeiro, até que o filhinho bem-amado, tal qual anjo, bate novamente à porta materna, obviamente desprovido de qualquer lembrança do passado.
A partir daí, o filme será a tentativa de adaptação (emocional e territorial) da família ao novo membro. Longe do detalhe ou da empatia com os personagens, esse filme frio e acadêmico nada faz lembrar um outro filme do mesmo autor (Ulu Grosbard), Georgia. Se esse filme sobre a trajetória de uma cantora errante não é nenhuma beleza, ao menos apresentava momentos ricos, especialmente aquele em que Jennifer Jason Leigh, disfarçada de cantora junkie e desafinada, canta (com real atenção à duração!) Take Me Back, de Van Morrison. Se a oportunidade de uma música era a chance de dar uma verdadeira vida à personagem, Nas Profundezas do Mar sem Fim é de uma ladainha constante, necessitada urgentemente de alguma coisa que lhe dê ritmo.