De Volta às Aulas (Kids Return),
de Takeshi Kitano (Japão, 1996)

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Masanobu Ando e Ken Kaneko em De Volta às Aulas

De Volta às Aulas é um filme crucial para a compreensão da obra de Takeshi Kitano. Porque nunca o tema da infância e o da violência estiveram tão intimamente ligados. Nesse filme aparentemente menor é esboçada toda a passagem de uma a outra, pelo viés da educação e da exclusão (as vítimas do sistema educacional). No começo do filme, um menino olha, pela janela da sala de aula, dois meninos brincando na bicicleta. São esses os dois protagonistas do filme, espécie de irmãos de sangue, um sendo o único paradigma do outro. Mas o que realmente agride no filme é a total ausência da paternidade no filme. Não vemos os meninos em casa, não vemos dirigirem-se a nenhuma autoridade (quando há uma, o instrutor de boxe, é mais para que seja desobedecida do que respeitada). A única lei a que estão submetidos os personagens é a causalidade. Os futuros possíveis são os maus empregos,   uma carreira meteórica ou a máfia.

O futuro dos alunos comportados não é bom: vemos desde o começo do filme um jovem que tenta conquistar a garçonete, mas suas esperanças de trabalho não são nada boas. O boxe é uma saída, mas ele num primeiro momento é mais visto como possibilidade de ganhar as brigas do que como carreira. Se depois ele é mais encarado como um trabalho, tudo vai abaixo: o personagem começa a beber, a tomar pílulas para emagrecer e tudo entre em declínio. Na Yakuza, então, o problema é pior: a humilhação é grotesca. Os únicos momentos de beleza do filme estão nos momentos amadores: quando os amigos andam de bicicleta matando aula no pátio do colégio, quando eles atrapalham a aula com um boneco dançando na janela, quando o boxe é simples treino e não uma obrigação com seus rituais sacros (sem bebidas, sem mulheres, sem fumo).

Quando, ao final do filme, duas carreiras parecem fracassar, um colega pergunta ao outro: "Será que nós acabamos?" (e ouvir um moleque de 20 anos dizer algo assim é coisa séria), ouvimos de resposta: "Nós ainda nem começamos". Alarme de guerra ou constatação otimista? Resta que, em De Volta às Aulas, nenhum momento de felicidade passa pelos caminhos institucionais da vida dos dois amigos (escola, esporte, máfia, trabalho). Os únicos caminhos que lhes restam são os da amizade, que entretanto não serão capazes de garantir a eles um lugar num futuro que eles já experimentaram mas que lhes foi recusado.

O filme termina onde começou, exatamente com um aluno olhando pela janela e vendo os dois amigos se divertindo na bicicleta no pátio do colégio. O percurso deles não leva a lugar nenhum, mas de certa forma eles têm o que os alunos assíduos não têm (e é por isso que eles chamam a atenção dos outros): a felicidade de fugir de um mecanismo que os oprime, mesmo que a título de a ele não se juntar nunca mais. Mal para os meninos, mas pior para a sociadede.

Ruy Gardnier