FESTIVAL DO RIO 99
críticas dos filmes em exibição

   O SEGUIDOR/FOLLOWING, de Christopher Nolan

Inglaterra, 1998


O filme de Nolan é um representante de uma categoria cada vez mais numerosa no cinema mundial: filmes que têm um material fantástico na mão, e abrem mão de mostrá-lo ou aproveitá-lo, para conformar-se com regras de mercado e gêneros, e acabam perdendo o que podia fazê-los especiais, tornando-se apenas mais um filme. O exemplo mais clássico disso é sempre o Guerra de Canudos de Sérgio Rezende, que parece não perceber a força da paisagem local (não só geográfica, mas humana, reparem nos rostos dos figurantes, que contam mais de Canudos que toda a trama armada) e apela para as figurinhas carimbadas da Globo para contar uma estorinha tão menor que o drama das pessoas em volta. No próprio Festival existe outro exemplar, O Oriente é Aqui, que perde a chance de falar com inteligência e criatividade de multiculturalismo, casamento interracial, conflitos de geração, para fazer comédia pastelão e drama estereotipado e preconceituoso disfarçado de liberal.

Certamente que O Seguidor não é tão desinteressante quanto estes exemplos, mas vale a comparação. Pois o início do filme é emocionante, com seu humanismo à flor da pele retratando personagens marginais e solitários que usam artifícios tão sinistros quanto seguir pessoas nas ruas e invadir apartamentos com o que parece ser o único propósito de se sentir perto das pessoas e parte de suas vidas. Isso é uma idéia de grande beleza, algo que poderia mesmo criar um Pickpocket contemporâneo. No entanto, o filme cai nas malhas fáceis de contar uma historiazinha de suspense comum, deixando de lado este material fascinante. É verdade que conta bem sua história, especialmente no que diz respeito a estrutura narrativa temporalmente quebrada, e também pelo clima que lembra Os Suspeitos – o final é parecidíssimo – no qual nunca sabemos bem o que está de fato acontecendo. O diretor mostra talento, mas pouca percepção para ver que possuía material melhor se ficasse centrado na questão da solidão do mundo moderno nas grandes cidades do que tentar criar suspense desnecessário. Uma pena, mas fica (como diz o nome da mostra onde ele foi exibido) a expectativa para o futuro de Christopher Nolan.

Eduardo Valente