Deuses e Monstros (Gods And Monsters),
de Bill Condon (EUA, 1998)

Misturando fatos reais e ficcionais, este filme nos revela a personalidade ambígua e polêmica do diretor que nos 30/40 ganhou notoriedade ao realizar algumas pérolas do cinema de horror, James Whale. Além de ser responsável por verdadeiros clássicos da cinematografia trash, como Frankenstein e A Noiva de Frankenstein, o cineasta causou furor na preconceituosa Hollywood quando assumiu publicamente a sua homossexualidade.

A partir da trajetória deste homem, que acabou se suicidando na piscina de sua casa, a trama deste filme (o roteiro foi indicado para o Oscar) gira em torno de um personagem fictício, o jardineiro interpretado por Brendan Fraser, que entra por acaso na vida do diretor e acaba fazendo com que seu passado de loucuras e prazeres venha à tona.

Apesar de não apresentar um estudo profundo da personalidade humana e todas as suas contradições, o filme ganha pontos quando toca na questão sem descambar para a banalidade, o sentimentalismo barato ou a mera mensagem panfletária. Em termos de cinema americano, que quase sempre teima em embalar tudo com laço de fita através de uma moral da história edificante e conscientizadora, o filme cumpre seu papel ao narrar com sensibilidade a história de dois homens diferentes que, de certa forma, precisam um do outro e, depois de alguns poucos momentos juntos, desenvolvem uma amizade (Na, realidade, é difícil caracterizar o convívio dos dois como uma amizade). Talvez seja mais fácil chamar de uma forte afeição que começou com uma atração física por parte de Whale.

Utilizando uma narrativa redonda, mas que transita o tempo todo no passado, o filme viaja por entre os filmes do diretor e sua melancolia remanescente. Em meio às confissões, flashbacks e conflitos do presente, o caráter ambíguo de cada personagem vai ganhando forma, e a partir daí, um sentimento de cumplicidade vai tomando corpo e desnudando os segredos dos protagonistas, cada qual vivendo em seu mundo de solidão.

Neste quadro dramático, ainda há lugar para um aguçado bom-humor, com ótimas piadas sobre Hollywood e, principalmente, sobre o famoso diretor George Cukor. No elenco, brilham Ian McKellen, numa interpretação luminosa, irônica e comovente, e Lynn Redgrave (por demais competente no papel da dedicada governanta de Whale).

Vágner Rodrigues