Calafrios (Shivers),
de David Cronenberg (EUA, 1975)

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Em uma ilha isolada de Montreal, um hospital é aterrorizado por verme parasita que transmite às pessoas compulsão sexual. O ser foi criado em laboratório com intuito de substituir órgãos do corpo humano, mas uma mutação deixou o ser maligno. "O que é isso?", diria você, "parece filme do Cronenberg!". E é. O primeiro dele. Ou seja, desde o começo, nosso querido diretor canadense dava provas de ser o mais criativo (ou bizarro, como queiram) dos cineastas de terror.

É curioso observar como Cronenberg tinha um estilo definido desde então, um híbrido entre o horror e uma ficção-cientificista. Mesmo (eu) desconhecendo a formação acadêmica do diretor, é nítida a sua preferência pela área médica; muito semelhante a Gêmeos, mórbida semelhança, Scanners e Os filhos do medo, mais uma vez nota-se o ambiente hospitalar em sua obra. Assim se confirma o seu terror biológico desde o início de sua carreira, sempre com originalidade e um embasamento científico aterrorizador. A escatologia também marcava presença: o verme — que mais parece um cocô ambulante (é sério!) — entrava nas bocas das vítimas. Suas obsessões sexuais também já apareciam, embora desta vez com mais ironia, humor não muito presente em filmes posteriores (não dá para deixar de rir quando vemos velhinhas taradas saindo do elevador ou crianças pervertidas atacando adultos). Misturando a medicina e o sexo, Cronenberg propunha, já em 1975, uma espécie de anti-campanha da AIDS, onde as pessoas doentes, ao invés de se preservarem, transmitiam seu parasita por se tornarem ninfomaníacas, numa compulsão que descamba para um final apocalíptico e inevitável. Como vemos, o otimismo nunca foi seu forte do diretor (existe algum final feliz em um filme do Cronenberg? Cartas e e-mails para a redação).

O filme é disponível em vídeo, mas como está fora de catálogo, fica meio difícil de encontrá-lo. Vale a pena ver, independente da curiosidade de ser o primeiro do Cronenberg. Só não confunda com Calafrio (Willard, de Daniel Mann, 1971), filme mostrando milhões de ratos assassinos que passava antigamente de madrugada na Bandeirantes.

Christian Caselli