Les Dames du Bois de Boulogne
(As Damas do Bosque de Boulogne)
(França, 1945)

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Elina Labourdette e Paul Bernard

Segundo longa-metragem de Robert Bresson (o primeiro é Les Anges du Péché, que veio depois de um documentário em média-metragem intitulado Les Affaires Publiques), As Damas do Bosque de Boulogne apresenta uma estranha mistura das imagens de Bresson com os diálogos de Jean Cocteau. Disso resulta um filme longe do estilo usual de seus filmes posteriores, mais secos e diretos.

Mas seria um mau procedimento analisar As Damas... em comparação com o resto de sua carreira. Se não vemos nesse filme funcionar o 'sistema Bresson' com todos os seus detalhes (filmagens de gestos, objetos, ausência total de sorrisos ou soluços, etc.), vemos entretanto um filme que se conta pelos corpos e pelos objetos. Podemos enumerá-los: um chapéu, uma varinha, algumas cartas, um guarda-chuvas e, enfim, um parque que vai ser o encontro programado de um amor fatal e impossível.

Se a admiração de Robert Bresson pelo melodrama sempre manteve algo de distanciado (os personagens sofrem horrores, mas jamais com rasgos emocionais), em As Damas... podemos ver sua grande desenvoltura nesse gênero, colaborado pelas passionais Hélène e Agnès, e pelos diálogos antinaturalistas e propositalmente cheios de excessos de Cocteau.

Mas o fundo da obra de Bresson está todo lá. Afinal, As Damas do Bosque de Boulogne é a história de um amor que existe de uma forma que não deveria, tema de quase todos os seus filmes. E a cena final, com um contido "eu luto, eu luto", pode ser considerada como uma das mais exemplares da obra bressoniana, servindo possivelmente de epitáfio para todos os seus personagens futuros.

Ruy Gardnier