Oito Milímetros
(8mm),
de Joel Schumacher (EUA, 1998)
Ruy GardnierO diretor Joel Schumacher sendo considerado nulo, vamos à história: um detetive no marasmo familiar com mulher e filha pequena é contratado pela velhinha sra. Christian, recém-viúva de um multimilionário, para investigar a genealogia de um snuff movie patrocinado por seu ex-marido. No filme, uma menina morre na frente da câmara sendo mutilada pelo personagem "Machine", um ogro mascarado. Para o detetive, ocorrre uma estranha associação: sua filha se torna a menina que está sendo morta. A partir daí, o filme torna-se uma enlouquecida fábula familiar e reacionária, a menina morta sendo a metonímia de todos os males do mundo, e o detetive (Nicolas Cage, sem brilhos) sendo deles o termo final, a justiça nua e crua.
Como já no filme Ranson, a justiça cega pelas próprias mãos é incensada. Oito Milímetros é M O Vampiro de Düsseldorf virado ao avesso: se a louca multidão deste último era vista como mais insana do que o criminoso, nesse filme trata-se de extrema justiça para seus realizadores um homem chegar ao máximo da insanidade para fazer punir os assassinos. Esse filme surge à luz de A Outra História Americana. Mas se aqui o nazifascismo é disfarçado, no outro é evidente. Breve síntese do cinema americano industrial (e da sociedade globalizada mundial, por reflexo): só há punição se alguém der nome aos bois. Resta ao menos a lembrança (e a esperança) de poder (re)ver o mesmo Cage em Olhos de Serpente, esse sim um filme altamente honrado.